GOTA D’ÁGUA
Nas postagens Campeonato Imaginário e Convicção Versus Conveniência, eu relato minha insatisfação com o trabalho no IPD que me fizeram deixar o instituto. Enquanto trabalhávamos no forte São João (Urca) era bem mas tranquilo do que viajar mais de uma hora até Barra de Guaratiba onde situa-se o atual CTEx. Assim, aliado ao baixíssimo salário e a enorme distância a ser percorrida (que encurtava o expediente e portanto a capacidade de trabalho), o próprio projeto ATTMM estava estagnado.
Isso gerava, obviamente, uma enorme insatisfação. Entretanto, houve um episódio que marcou minha decisão de deixar o IPD. Era uma segunda-feira e havíamos acabado de chegar no prédio do GUIACON. Eu era responsável pelo laboratório onde ficava um computador analógico EAI-2000. Como estávamos perto do mar, era necessário que se mantivesse ligado um equipamento desumidificador permanentemente para garantir que o EAI-2000 não se deteriorasse.
Esse equipamento desumidificador tinha um recipiente (em torno de 5 litros) onde armazenava a água recolhida do ambiente. Evidentemente, esse recipiente deveria ser esvaziado periodicamente. Como havia se passado todo um fim de semana, era hora de esvaziá-lo.
Solicitei, então, a uma técnica eletrônica, que chamarei de Gerúndia, que esvaziasse o desumidificador. Para minha surpresa ela se recusou de forma displicente, dizendo: “Eu não! Isso não é minha função.” Diante de tal postura, eu imediatamente respondi: “OK pode deixar que eu, que sou engenheiro, faço”. Assim o fiz.
Gerúndia era uma inútil que só estava ali, como contratada pelo projeto, por ser filha de general. Ela não temia ser demitida (que era o que merecia) mesmo que se recusasse a fazer uma simples tarefa de manutenção de laboratório. Aquilo foi a gota d’água para que eu concluísse que estava no lugar errado.
Foi posterior a esse episódio que tive a conversa com meu chefe relatada na postagem Convicção Versus Conveniênia, em que respondo que nenhum dinheiro me faria continuar trabalhando lá.
Costumamos utilizar essa expressão gota d’água para se referir a última gota que faz transbordar o balde, que já está cheio. Não é essa gota que enche o balde, apenas o faz transbordar. Se nossa decisão é baseada no balde cheio, porque esperar por essa gota final ? Porque ela vira a chave. Ela marca um evento que não tem volta.
Tive poucas gotas d’água em minha vida profissional. Uma delas foi descrita nas postagens Milagre. Outra foi a decisão de pedir aposentadoria (que contarei posteriormente).
Podemos, eventualmente, nos lembrar das mágoas e vicissitudes que nos fizeram tomar uma atitude (a água no balde). Mas é da gota d’água que nos lembramos sempre como o momento da virada. O momento de consolidar convicções. O momento de dar um basta. O momento de mudar de rumo.
É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado. Anthony Robbins
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