O LIVRO

Conforme mencionei no post “Aventuras Russas - Encontro nada secreto”, em 1994, fiz contato e amizade com professores do Moscow Aviation Institute - MAI.  Em seguida, consegui verba da FAPESP para trazer 4 deles ao Brasil, para ministrar cursos no ITA e no INPE.

Durante esse período, o IAE firmou um contrato com o MAI para o desenvolvimento de um software de simulação que utilizava as técnicas desenvolvidas por eles.  Isso permitiu que eu tivesse um contato próximo a esses professores para compartilhar o que sabíamos e, principalmente, aprender o que eles sabiam.

Desse relacionamento nasceu a ideia de escrevermos um livro juntos.  O conteúdo do livro seria baseado nos cursos que haviam dado somado à nossa experiência, bem como do curso que eu já ministrava na época.

Foi um trabalho exaustivo de muitos meses.  A preparação do livro exigiu não apenas a elaboração do conteúdo mas também montar o layout das páginas além da revisão do inglês - que era horrível (ficou apenas ruim).

Em 1996, consegui verba da FAPESP para a produção de 500 unidades do livro que se intitulou Aerospace Vehicle Control: Modern Theory and Applications (400 páginas).  Cerca de 200 unidades foram enviadas para os demais autores em Moscou.  Dezenas foram doadas para diversas bibliotecas de instituições afins à área espacial.  As demais foram colocadas à venda em livrarias especializadas e algumas levadas por mim para congressos no exterior.

Após a produção do livro, vários conhecidos do INPE me parabenizaram pelo feito e alguns até se ofereceram para comprar um exemplar.  Estranhamente, no meu próprio instituto, fora o pessoal do grupo que eu chefiava, ninguém me cumprimentou por ter produzido um livro diretamente ligado ao trabalho que fazíamos.  Muito pelo contrário, chegou aos meus ouvidos o comentário de que em vez de estar trabalhando eu estava escrevendo livro.

Não chegou a ser uma grande surpresa tal comportamento.  Eu já havia visto outras atitudes mesquinhas e despropositadas como aquela.  O que causa repugnância é tentar entender a causa de tal conduta.  O que poderia estar gerando um desprezo por uma realização tão nobre ?  Até aquele momento, nunca havia sido produzido um livro no Brasil, na área espacial (especialmente na área de controle).

Será que pensavam realmente que aquele livro não era parte do meu trabalho e um legado para as próximas gerações de profissionais ?  O resultado do meu tipo de trabalho era primordialmente relatórios técnicos.  Onde um livro não se encaixaria nisso ?

Talvez imaginassem que eu deveria ter investido meu tempo em algo mais importante.  Entretanto, a maior parte do tempo gasto na produção do livro havia sido fora do expediente.  Não houve nenhum prejuízo para as minhas atividades institucionais.  Quem assim pensou, nunca buscou saber se havia fundamento em sua suposição.

Será que imaginavam que eu estaria ganhando dinheiro com isso ?  Na verdade, paguei do meu bolso muita coisa.  Ou seja, do ponto de vista financeiro, foi prejuízo.

Resta uma hipótese: inveja por não ser capaz de fazer algo semelhante.

Os ataques da inveja são os únicos em que o agressor, se pudesse, preferia fazer o papel da vítima.”  Niceto Zamora 

Comentários

  1. Talvez seja inveja, mas talvez seja o acordo tácito em prol da mediocridade que há na maioria das sociedades, onde quando alguém se destaca é furiosamente atacado por revelar, tal como um espelho, a mediocridade daquele ambiente. Este triste fato social não é exclusivo do Brasil, mas segundo o Prof. Olavo de Carvalho aqui isso é excepcionalmente forte igual neum outro lugar que ele conhecesse. (Recomendo os livros: O Imbecíl Coletivo do Prof Olavo e Limites Internos de Steven Pressfield).

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