HOMEM DE CONFIANÇA
Em meados da década de 90, apareceu no IAE um oficial engenheiro reformado chamado Cáspio (nome fictício). Ouvi dizer que ele era um bolsista mas nunca fiquei sabendo a origem nem o objetivo dessa tal bolsa. Ele foi designado para a divisão de eletrônica e seu próprio chefe, o engenheiro Lobo (vide post Meu Herói), comentou comigo que não sabia o que fazer com ele, pois Cáspio não cumpria as orientações e ordens que recebia. Era do tipo que fazia o que bem entendia.
Em outubro de 1997, eu
estava em Alcântara e o VLS já estava pronto para ser lançado. Estávamos fazendo as checagens finais para
dar início à contagem regressiva. Foi
quando um competente especialista em informática chamado Martinho (nome
fictício), que havia feito um software que monitorava todos os programas do
computador de bordo, detectou algo estranho.
É preciso entender que,
naquela época, a tecnologia do computador de bordo só permitia que se gravasse
em sua memória 5 vezes. Além disso, o
programa só era gravado depois de passar por todos os testes em que todo o
hardware do sistema de controle houvesse sido testado e aprovado. Isso havia sido feito em São José dos Campos,
antes do embarque para Alcântara. A
checagem final era para saber se tudo estava se comunicando como devia.
Acontece que essa checagem
mostrou que o programa que estava gravado no computador de bordo não era o
original testado em São José dos Campos.
Alguém o havia alterado sem o conhecimento ou ordem de ninguém. Imediatamente a suspeita recaiu sobre Cáspio,
que estava presente na campanha. Alguém
foi em seu quarto e lá estava o lap top que havia sido utilizado para a
gravação do software pirata. Quando foi
questionado porque ele havia feito aquilo, ele simplesmente disse que estava
fazendo um teste.
Além de não ser essa a função
dele, ninguém tinha autorização de mexer no software já aprovado para voo. A essas alturas, não havia como saber o que
estava no computador de bordo, pois o foguete já estava pronto para ser lançado
e até as rotinas de teste eram proibidas.
Em função disso, o lançamento teria que ser adiado, a ogiva do veículo
desmontada (junto com o satélite) para que se retirasse a placa do computador
de bordo que seria enviada para São José para regravação e teste.
Claro que isso gerou
uma polvorosa na equipe de lançamento.
Nem todos sabiam o motivo apenas que algo havia sido descoberto. Então, o Coronel que chefiava a campanha
convocou uma reunião de emergência no auditório. Eu achava que ele iria dar voz de prisão para
Cáspio. Mas para meu total espanto, ele
chamou Cáspio à frente de todos, colocou a mão em seu ombro e disse: quero que
saibam que esse aqui é meu homem de confiança !!!
Tal foi a minha
indignação que nem me lembro do que foi dito em seguida. O lançamento foi adiado por uma semana e, em
função disso, paguei do meu próprio bolso para voltar para casa no dia
seguinte. Logo após à minha chegada em
São José, o vice-diretor me procurou para saber porque eu havia voltado. Minha resposta ecoa até hoje: se ele é um
homem de confiança eu não sou!
Esse é um episódio
bizarro. Deixou muitas perguntas sem
resposta e, por isso mesmo, procurei relatar fatos sem opinar sobre eles. É importante que se diga que há dezenas de
testemunhas vivas do que aconteceu.
Infelizmente, alguns faleceram no terrível acidente de 2003.
Quanto a mim, nunca
mais pus os pés em Alcântara, por uma questão de confiança...
Triste situação e desrespeito com os profissionais! Dentro de programa de tal envergadura isto abala toda seriedade e CONFIABILIDADE ! Faria o mesmo e não seria conivente com tal irresponsabilidade. Poucos de caráter teria sua atitude de protestar no SILÊNCIO! Assim sabemos a quantas anda, já andou ou serviu a outros interesses!
ResponderExcluirFirme nos propósitos e reto na conduta! Não ficará rabo para pisarem!
ExcluirTudo no mundo se descobre, as vezes demora um pouco por medo de retaliação, mas um dia a verdade aparece.
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