CUMPRINDO MINHA OBRIGAÇÃO
Após a entrega contratual das plataformas inerciais, a empresa Russa que as produziu nos comunicou que não teria mais condições de fornecimento. O motivo alegado era o desmantelamento do parque industrial que era utilizado para produzi-las. Assim, achar um outro equipamento para o VLS era mandatório.
Como responsável pelo sistema de controle, comecei a
procurar em empresas europeias alguma que pudesse nos fornecer. Uma delas era a SFIM francesa que produzia
uma plataforma inercial baseada em tecnologia de fibra ótica (a plataforma russa
era totalmente mecânica).
Em julho de 2001 eu fui convidado para dar uma série de
palestras na pós-graduação da Universidade de Glasgow, durante 2 semanas. O representante brasileiro da SFIM, sabendo
disso, agendou que eu pudesse ir até Paris durante o fim de semana entre as
palestras para conhecer in loco o equipamento oferecido. A viagem foi totalmente custeada pelo British Council / FAPESP e a ida a Paris pela SFIM,
sem nenhum prejuízo para a missão, muito menos para o IAE.
Gostei bastante do equipamento. Tinha as especificações adequadas para o
controle do VLS e o preço era menor do que a plataforma russa. Trouxe em mãos, então, uma proposta comercial
de fornecimento de algumas unidades.
Ao chegar no IAE, encaminhei a proposta para a direção do
CTA, através dos caminhos burocráticos normais do IAE. Naquela época, era a direção do CTA que fazia
esse tipo de aquisição.
Na mesma semana, fui convocado para uma reunião com a
gerência do VLS sobre o assunto.
Imaginava eu que seria uma reunião técnica, mas não foi. Para minha surpresa a sala tenha uma meia
dúzia de pessoas. Uma delas era o então
gerente do VLS que tinha uma característica ímpar: entrava mudo e saía
calado. A reunião foi conduzida por ninguém
menos que KRUGER. Aquele personagem
maligno da vida profissional, que já foi assunto de diversos posts. Ele havia me deixado em paz nos últimos anos
e quando surgiu uma oportunidade colocou as garras de fora.
Kruger tomou a palavra, segurando nas mãos a proposta técnica,
e com a grosseria habitual me perguntou: “com ordem de quem você foi à França
atrás dessa proposta ?”
O que ele não esperava é que eu já estava muito mais maduro
desde de nossos últimos embates e, principalmente, após o sucesso do sistema de
controle dos 2 VLS que haviam voado (1997 e 1999) eu não tinha nada a provar
para ele. Respondi com muita firmeza e
indignação: “eu não preciso de ordens para cumprir a minha obrigação!” Mostrei então o organograma técnico do VLS,
onde meu nome aparecia como responsável pela plataforma inercial. Expliquei também que se tratou de aproveitar
a oportunidade de eu já estar em missão próximo do local e sem prejuízo da
missão.
Todos os presentes concordaram com minha explicação menos
Kruger que tentou ainda provocar dizendo que eu deveria ter comunicado antes à
chefia. Nessa hora eu perdi a paciência
com aquela situação esdrúxula. Eu estava
sendo questionado por fazer bem feito aquilo que era minha obrigação, sob a alegação de que eu precisaria receber ordens para fazê-lo. Então respondi rispidamente: “ora isso é apenas uma proposta, se você não
está satisfeito, enrole o documento e o enfie no ***”. O silêncio foi geral e a reunião se encerrou
para pensar à respeito.
Alguns dias depois recebi a orientação de fazer uma procura
mais extensiva de fornecedores. O que
fiz e, posteriormente, foi ignorada.
Acabou que a atitude de Kruger, em sabotar meu trabalho, teve um lado positivo. Pois, como anos depois, o projeto VLS foi encerrado, fez-se então, uma economia não comprando
novas plataformas inerciais.
Hoje, olhando para trás, fico pensando que talvez ele estivesse
achando que eu poderia estar tendo algum interesse escuso com aquela atitude
(vide post Todo Mundo). Recebendo alguma
vantagem financeira se o instituto viesse a adquirir o equipamento - certamente,
não era o caso. Mas ele via com os olhos
de quem sempre vê a maldade nas coisas, embora eu nunca tivesse dado motivo
para isso.
São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os
teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o
teu corpo ficará em trevas. Lucas 11:34
Grandes histórias contadas, que reflete a mesquinharia brasileira
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