GERENCIAMENTO INCOERENTE
Antes mesmo do término do contrato com a empresa russa que produzia as plataformas de navegação do VLS, já havia uma preocupação do CTA em buscar uma alternativa nacional. Primeiramente, houve uma tentativa de melhorar o desempenho de um equipamento estrangeiro que era normalmente importada pela Aeronáutica. Foi contratada uma empresa privada para fazer isso. Ele levou uma boa bolada de dinheiro em troca de 3 conjuntos de documentação (que ficaram na minha sala após minha aposentadoria).
Houve também uma
tentativa de desenvolvimento dentro do próprio IAE. O CTA conseguiu recursos do próprio Comando e
eu fui procurado para fazer esse desenvolvimento. Chamei o projeto de SISNAV - SIStema de NAVegação. Um nome bastante simplório, mas era bem
objetivo. Além do mais eu havia proposto
outros nomes que não foram bem aceitos. Era
minha primeira experiência com gerente de um projeto e estava bastante animado.
O projeto começou em junho de 2002.
Então me foi pedido um
planejamento preliminar que continha, basicamente, objetivos e um cronograma físico-financeiro. Levei muito a sério isso e fiz um
planejamento bastante detalhado, especialmente no que dizia respeito das
aquisições. Imaginava eu (ingenuamente)
que, uma vez aprovado o projeto e chegada a verba, bastaria encaminhar os
pedidos e ele seriam executados / adquiridos.
Ledo engano.
Eu já conhecia as
dificuldades das rubricas, também chamada de “dinheiro colorido”. Isso significa que cada despesa tem um código
(rubrica) e é preciso ter dinheiro naquela rubrica específica para que se possa
gastar. Não basta ter dinheiro no
projeto. É preciso ter na rubrica certa,
caso contrário você não poderá dispor desses recursos.
Como eu havia
encaminhado o cronograma físico-financeiro com antecedência e nele as verbas eram
descritas segundo suas rubricas, imaginava eu que os recursos estariam
disponíveis segundo esse planejamento. Completamente
ao contrário do que eu imaginava não era assim que estava funcionando. A verba geral chegava sem designação de rubrica
e era “colorida” no próprio CTA. Havia
um setor (não lembro a designação) que se encarregava dos projetos com alguém
responsável pela distribuição da verba para os projetos em vigor.
Acontece que essa
pessoa era quem decidia quanto meu projeto teria para um determinado período e
com quais rubricas. Essa pessoa nunca
entrou em contato comigo, muito embora era quem decidisse o andamento das atividades. Isso não seria um problema se ele seguisse o
planejamento feito mas não era o caso.
Suas decisões eram complemente arbitrárias e incoerentes. O responsável, nunca se dignou a me avisar da
chegada dos recursos. Era eu que ficava
inquietando a administração pra saber alguma informação.
Mesmo vendo o absurdo
que era aquele tipo de gerenciamento, eu estava disposto a fazer dar certo. Esperava saber quanto de dinheiro disponha e
onde (quais rubricas) para fazer os pedidos de compra. Assim, os trabalhos foram sendo realizados, dentro
do possível, e seguidos todos os passos de acompanhamento técnico do projeto.
Ao final de 2003, com a
ajuda de um colega de equipe, procurei gastar até o último centavo da verba
destinada ao SISNAV e encaminhei todos os pedidos dentro dos prazos e rubricas
exigidos. Entretanto, em março de 2004 meus
pedidos ainda não haviam sido adquiridos.
Depois de muito esforço telefônico, consegui saber que a verba destinada
àquelas aquisições havia sido redirecionada para outros projetos.
Foi a gota d’água para
mim. Além de um gerenciamento
incoerente estava havendo ingerência no meu projeto. Uma verba destinada ao meu projeto foi
retirada sem nenhum aviso ou mesmo satisfação.
Durante uma reunião com a direção do IAE, eu expliquei o que estava
acontecendo e solicitei o cancelamento do projeto. Acrescentei uma frase que repito até
hoje: se essas são as regras do jogo, eu
decido não jogar !
Quem aceita o erro se
torna seu cúmplice.
Felizmente, o Google não atravessou no meu caminho, e posso comentar seu texto livremente. O ocorrido relatado é uma grande arbitrariedade. Quem distribui a verba nos elementos de despesa deve ser o gerente do projeto, principalmente se a verba é concedida sem vínculo com a administração do órgão hospedeiro do pesquisador e de seu desenvolvimento. Mesmo no caso das verbas oriundas pela via administrativa do COMAER, o gerente do projeto é que deveria destinar o seu uso. Mas isto não ocorre, digamos que por tradição, já que os gerentes sendo militares, e até diretores dos institutos, se subordinam à cadeia de comando. No caso do gerente civil, o tratamento é o mesmo, mas incorretamente.
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