PAGANDO A CONTA DOS OUTROS

Durante o período que tentei produzir uma plataforma inercial através do projeto SISNAV (vide post Gerenciamento Incoerente) aconteceu um episódio que vale a pena mencionar.

Como não havia rubrica (dinheiro colorido) para importação, comprei algumas placas de processamento através de uma empresa brasileira que trabalhava com esse tipo de equipamento.  O custo disso seria maior do que uma importação direta através do CTA, pois o mesmo é isento de alguns impostos.  Entretanto, mesmo que eu tivesse recursos para isso, preferia fazer a aquisição através de uma empresa, pois havia maior agilidade (sem a burocracia esquizofrênica habitual) e com uma menor possibilidade de erros.

Pois bem, após o período normal para o tempo de importação, procurei a empresa contratada para saber o porquê da demora.  Fiquei então sabendo que a Receita Federal havia entrado em greve.  Cabia a ela a triagem e inspeção de todo material importado e, embora a compra já estivesse no Brasil, esteva retida à espera da liberação por parte de Receita.

Essa greve, em especial, demorou bastante tempo e mesmo depois de terminada eu não havia recebido os componentes adquiridos.  Novamente, cobrei da empresa a demora no recebimento.  Afinal estava prejudicando o andamento dos trabalhos.

A resposta foi surpreendente.  Após a liberação por parte da Receita Federal, surgiu o custo de armazenagem do período da greve.  Além disso, o próprio imposto de importação aumentou pois incluiu o custo de armazenamento (que não havia antes).  O valor total a ser pago se tornou maior que o próprio valor do produto que havia sido importado.  A empresa então decidiu abandonar o produto na Receita e o comprou novamente pois sairia mais barato.  Assim foi feito.

Vejam então o absurdo da situação.  A empresa importadora seria obrigada a pagar por um serviço que não pediu e nem precisava – o armazenamento.  Além disso esse custo extra é incluído nos impostos !!  Tudo porque a Receita Federal não fez o serviço que lhe competia por estar em greve.

Não questiono o direito de greve de qualquer categoria.  Entretanto, o que não é correto é que os grevistas ficam com o bônus (aumento dos salários) e o restante da sociedade fique com o ônus (os prejuízos causados pela greve).  Ou seja, estávamos pagando a conta dos outros.

Embora, tudo isso estivesse dentro da lei, era e é profundamente injusto e desonesto.  Obviamente só está dentro da lei porque esta foi feita para proteger os funcionários públicos do público que eles deveriam servir.  Isso me faz lembrar um famoso texto de Ayn Rand.

Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.

Ayn Rand

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