JEZABEL – a denúncia
Quando eu soube da tal
carta para o MCTI, muita coisa já tinha acontecido. O diretor do instituto chamou Jezabel e indagou-a
sobe seu comportamento. Afinal, se tinha
uma denúncia a ser feita, porque não fez a ele? (ou seja, passou por cima da
sua autoridade) E que denúncia ela queria fazer? Ela, provavelmente instruída por advogado,
disse que não tinha nada a declarar e que já havia encaminhado sua denúncia ao
Ministério Público Federal. O diretor,
então, tomando uma atitude de verdadeiro chefe, a transferiu imediatamente da
instituição, lhe dizendo que não pusesse mais os pés lá.
Quando eu soube do
ocorrido, procurei imediatamente o MPF para saber da tal denúncia. Tive acesso completo aos documentos. Ela havia feito 5 denúncias de corrupção
contra mim e assinado em baixo. O MPF
encaminhou a denúncia ao meu instituto solicitando uma investigação
formal. Foi definido um investigador
para o caso que eu chamarei de Caspácio.
Algumas das 5 denúncias
de corrupção eram verdadeiras piadas. Dizia
que eu havia viajado escondido para o Paquistão para vender segredos do
VLS. Outra dizia que eu recebia bolsa de
pesquisa do CNPq enganando aquela organização pois eu dizia ter orientado o
doutorado de um aluno que havia sido reprovado. A denúncia mais séria é que eu estaria contrabandeando
acelerômetros de Israel e vendendo escondido em um possível mercado paralelo.
Minha primeira reunião
formal com Caspácio foi, no mínimo, curiosa.
Sua primeira pergunta foi: “você tem ou teve um caso com essa moça ?” Claro que não ! – foi minha resposta, e
comecei a rir. Ele replicou com um
sorriso sem graça e disse: bem, eu tenho que perguntar... Isso já indicava o que a instituição pensava
do que estava acontecendo. Seria a
denúncia, a vingança de uma amante desprezada ?
Eu expliquei então que se tratava sim de uma vingança, mas não por
motivos sexuais. Contei o que aconteceu
em sua tentativa de mestrado.
Uma por uma, as denúncias
foram esmiuçadas e explicadas. Graças a uma boa organização, pude me defender de todas as questões com documentação. Logo de início, apresentei as guias de
importação dos acelerômetros (ou seja, não foram contrabandeados) e mostrei-os
a Caspácio para que os contasse. Não
faltava nenhum (portanto, não foram vendidos pra quem quer que fosse). Também, Caspácio verificou na instituição de
ensino que o tal aluno que ela se referia não havia sido reprovado mas
continuava normalmente matriculado (mais uma denúncia falsa).
Sobre a viagem ao
Paquistão, não havia nada de secreto.
Fui apresentar um trabalho em um congresso de tecnologia (que não tinha
nada sobre foguetes). Esse era apenas mais
um dos 30 congressos internacionais em que eu apresentava trabalho ao longo da
minha carreira. Apresentei os anais do
congresso com minha apresentação sobre tecnologia de simulação.
O processo investigativo
demorou 1 ano e concluiu que não havia nenhum indício de qualquer irregularidade
em minhas atividades. Entretanto, eu não
estava satisfeito de ter que provar minha inocência. Eu me perguntei: qual prova ela teria oferecido
para as acusações que fez? Quando li com
mais calma a denúncia, percebi que ela havia entregue um CD como prova!! Fui ao MPF e solicitei o cabeçalho do tal CD
para entender o conteúdo. Qual não foi
minha surpresa em descobrir que Jezabel havia copiado às escondidas todo o conteúdo
do HD do meu computador.
Não havia nada
incriminatório lá, mas uma enorme quantidade de informações altamente
confidenciais, tais como os dados de voo do VLS bem como seu projeto de
controle e também toda a documentação trocada com a Russia. Isso por si só já representava um crime. Imediatamente fiz uma denúncia à minha organização
de furto e divulgação de informação sigilosa.
Antes, tive o cuidado de verificar no antigo computador de Jezabel e
consegui ver a prova de quando ela fez isso.
O tempo passou e nada
foi feito à respeito da minha denúncia.
Então procurei a assessoria jurídica da organização para saber o porquê
não havia sido aberto um inquérito contra Jezabel. Essa conversa foi uma das mais icônicas de
toda a minha carreira. O assessor
jurídico me disse que não havia provas de que havia sido ela que tinha feito a
denúncia no MPF. “Como assim ? disse
eu. Claro que temos prova. Eu tenho um documento assinado por ela !!” O assessor tentou escapar argumentando: “Isso não é prova. É indício!” Ao qual repliquei,
imediatamente: “Mas se não se abre
processos com indícios” ?
O assessor disse que
teria que indagar do MPF e isso não era algo desejável pois este teria poder
investigativo sobre a própria organização.
Aí, então, veio a pior parte. Ele
me disse: “além do mais se você insistir nesse processo, você será incriminado
por ter facilitado o acesso ao seu computador”!!!! Eu estava sendo coagido a calar a boca, para
manter tudo como estava afinal o assunto já estava resolvido e o infrator
intocado. É claro que Jezabel continuou
sendo ela mesma mas isso não era mais problema meu.
Essa conivência com as
coisas mais absurdas leva qualquer organização à ignomínia e a insignificância.
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