SANTAS MÃOS

 A situação absurda descrita no final da última postagem, normalmente, me levaria a uma reação mais contundente.  Mas não foi o caso e vou explicar o porquê.

Após mais uma tentativa de desenvolver um sistema de navegação inercial no IAE (vide postagem Gerenciamento Incoerente), em 2005 começaram tratativas de financiamento exclusivo para esse fim.  Eu participei pessoalmente em reuniões na Marinha, no Exército e no BNDES na tentativa de chegar a um entendimento de como obter o financiamento e qual o escopo desse projeto.

Finalmente, em 2006, através da FINEP iniciou-se o Projeto SIA – Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial.  Esse projeto envolvia, além de um consórcio de empresas privadas, 4 institutos: IEAv, ITA, IAE e INPE.  Seu escopo era bastante ambicioso e envolvia a formação de recursos humanos (ITA), desenvolvimento de novas tecnologias (IEAv), projeto e infraestrutura necessária para a produção de plataformas inerciais (IAE) e infraestrutura para projeto e testes de sistemas de controle de satélites (INPE).

Ou seja, era um projeto era enorme e contava com recursos da ordem de 23 milhões de dólares (da época evidentemente).  Assim, tornou-se um dos principais do CTA.

Eu fiquei como responsável pela parte do IAE um tanto a contragosto, devido à péssima experiência anterior descrito na postagem Gerenciamento Incoerente.  Entretanto, a dinâmica desse projeto era totalmente diferente.  Os recursos eram administrados por uma fundação chamada FUNDEP (com sede em Belo Horizonte) ligada à UFMG.  Eu nunca tinha trabalhado com ela e fiquei observando o andar da carruagem.

No início as coisas estavam tão emperradas como sempre foram, até que eu percebi que não era da responsabilidade da FUNDEP.  No que se referia a atuação dela, o resultado era excelente.  Isso me deixou bem mais animado.  O gerente do SIA, inicialmente, era um oficial do IEAv que por motivos não muito claros para mim, pediu para ser substituído.  Seu substituto não foi muito bem recebido pela direção daquele instituto e isso gerou ainda mais crise dentro da gerência do projeto, com implicações nos demais institutos.  Até que, o então gerente do SIA, veio me perguntar se eu aceitaria assumir aquela posição.

Isso aconteceu exatamente no período em que eu era investigado pelas denúncias de Jezabel.  É claro que eu imaginava que a direção do CTA não iria querer colocar uma pessoa sob investigação para assumir um cargo tão elevado e de grande responsabilidade.  Apresentei essa minha preocupação ao então gerente que me convidava e, para minha surpresa, ele disse que o comando não via problema algum.  Como eu percebia que o projeto poderia avançar sobre a administração da FUNDEP, eu aceitei o cargo embora com receio de que pudesse ser recusado.

Para falar a verdade, eu só acreditei quando o então vice-diretor do CTA veio falar comigo e usou uma expressão inusitada.  Disse ele:  “Estamos confiando esse projeto às suas Santas Mãos”.  Eu, respeitosamente, apertei sua mão em concordância e aceitação.  Começava ali o maior desafio da minha carreira.

Até hoje eu não tenho certeza do que ele quis dizer com isso.  Minhas mãos seriam santas por competência ou estaria se referindo ao tipo de santidade que todo cristão deveria demonstrar ?

Seja como for, o recado era claro.  A instituição não me via como suspeito de nada e sim como vítima de falsas denúncias.  Além disso, confiava na minha idoneidade e capacidade técnica.

Foi com esse respaldo institucional que preferi não me indispor com o assessor jurídico que insistia em proteger os infratores (no caso Jezabel).  Eu tinha algo muito mais importante para fazer do que buscar uma justiça pessoal.

Me fez lembrar um episódio da Bíblia, quando Neemias estava reconstruindo os muros de Jerusalém e alguns inimigos o convidaram para um “papo” e sua resposta foi.

“Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?”     Neemias 6:3

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