CONIVENTE
Após quase 6 meses do envio da parte (reclamação formal) sobre o que estava acontecendo na obra, nada havia acontecido. Então, solicitei providências ao Comando do CTA, já que me reunia com o responsável pelos projetos, periodicamente.
Não sei exatamente o
que ele fez, mas na mesma semana foi convocada uma reunião no setor de obras do
CTA para discutir o assunto. Estavam presentes
nessa reunião em torno de 8 pessoas, a maioria civis. Eu inclusive.
A reunião era presidida por uma major que chamarei de Erastótenas.
Erastótenas abriu a
reunião com uma frase épica: “é bom deixar bem claro que aqui todos são
coniventes com o que está acontecendo !”
Incontinente, pedi a palavra: um momento major. Então puxei a folha do original da parte que
havia dado 6 meses antes e li em voz alta.
Ao terminar, fulminei: “conivente quem ?”
Erastótenas titubeou
por um instante e replicou: “é você está de fora dessa. Mas você deixou seu diretor administrativo em
uma situação ruim com isso”. Ou seja,
falar a verdade incomoda.
A reunião continuou em
outro clima depois disso, pois estava claro que era preciso dar uma solução ao
problema. Havia pressão de cima. Eu expliquei com calma o que estava
acontecendo e que o próprio instituto estava permitindo aquilo.
Em determinado momento,
o chefe do setor administrativo do instituto disse outra pérola: “vamos pagar logo isso de uma vez e fazer um
novo contrato para terminar a obra”. Na
minha primeira intervenção eu havia sido firme porém bastante cortês. Dessa vez eu estava furioso e fui
ameaçador. Apontei dedo para ele e
disse: “não repita mais isso. É dinheiro público e tem que ser tratado com
respeito. O que você está propondo é um
crime de negligência”.
Aí as coisas azedaram
de vez. Erastótenas teve que intervir
para acalmar os ânimos. Mas estava claro
que alguma solução concreta teria que sair dali. Eu não iria deixar por menos.
Apesar de um mal começo,
o resultado da reunião foi razoavelmente positivo. Como o contrato era dividido em duas partes (a
reforma de um prédio de salas e a construção de outro - laboratório) decidiu-se
concentrar os esforços na conclusão da reforma e, posteriormente, discutir-se-ia
sua continuidade.
Também decidiu-se
colocar um fiscal específico para acompanhamento dos trabalhos, para que não
mais houvesse atrasos nem erros construtivos.
Após isso, embora não tenha sido nenhum mar de rosas, a obra de reforma
foi concluída (apareceram problemas posteriormente).
É claro que após essa
fatídica reunião, a administração do instituto passou a me ver como um
inimigo. Um criador de casos que colocava
em risco suas pacatas vidas ineficazes. Alguém
a quem se devia evitar.
Eu tinha consciência
que a minha autoridade naquela reunião não era devido à seriedade com que eu conduzia
o meu trabalho mas sim porque alguém de cima (Brigadeiro Venâncio) estava de
olho no que estava acontecendo e me dando cobertura.
Não cheguei a entender
o objetivo de Erastótenas com aquela palavra, já que o interrompi de início. O que será que ele queria com o fato de
chamar a todos de coniventes ? Uma forma
de responsabilização ? Certamente. Uma maneira de motivar as pessoas a fazer
aquilo que já lhes era obrigação ? Acho
que deveria haver outras maneiras.
Para mim ficou claro
que se não fosse minha presença ameaçadora, iriam acabar encontrando um jeito
de pagar à Pikaretta e contratando outra empresa, só para não se dar ao
trabalho de fazer o certo acontecer. Não
importava o dinheiro público nem os prazos – um absurdo total.
Muito embora, a partir daquele
momento, o instituto passou a tratar aquela obra como prioridade, não significa
que não tenha sido uma guerra concluir toda a obra. Aquela havia sido apenas a primeira batalha.
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