ENTENDENDO O VERDADEIRO PROBLEMA

 Como disse na postagem anterior, assumir a gerência do Projeto SIA, foi o maior desafio da minha carreira.  Eu sabia que iria enfrentar uma avalanche de problemas (já tinha visto alguns antes) mas eu estava bastante otimista com o sucesso da “missão”.  Eu me baseava no fato de que já tinha bastante conhecimento e experiência no assunto principal do projeto e também tinha visto que a fundação que administrava os recursos financeiros (FUNDEP) havia se mostrado basta competente.  Assim, eu imaginava que eu não teria os mesmos problemas administrativos / burocráticos infernais que vinha enfrentando ao longo da minha vida profissional.

Minha primeira iniciativa foi procurar o responsável pelos projetos do DCTA, Brigadeiro Venâncio, para marcar reuniões periódicas de acompanhamento do projeto, onde eu apresentava a evolução das atividades bem como os problemas enfrentados.  Era essencial mostrar transparência e competência, além da necessidade de ajuda.  Isso foi fundamental para o sucesso do projeto pois Venâncio se tornou uma espécie de anjo da guarda do SIA. 

Outra atitude inicial foi definir quem eram os responsáveis pelo projeto nos seus respectivos institutos (INPE, IEAv e ITA) além dos representantes das empresas chamadas intervenientes.  Para que se pudesse efetuar os gastos comecei a cobrar um planejamento de metas definidas que os justificasse.  Muito dinheiro já havia sido gasto sem se saber exatamente pra quê. 

Isso começou a gerar uma reação antagônica ao projeto.  Cheguei a ouvir o seguinte absurdo: “se tiver que ter esse tipo planejamento e justificava é melhor pedir recursos diretamente à FAPESP”.  Ou seja, tinha gente que via no SIA a oportunidade de gastar dinheiro público sem dar satisfação do que fazia com ele nem responsabilidade com qualquer resultado.

Para usar os recursos do projeto, era preciso fazer um cadastro na FUNDEP.  Havia mais de 180 pesquisadores cadastrados de 4 instituições diferentes.  Isso dá uma idéia do tamanho do projeto e da encrenca.

Esses problemas de uma postura antiética foi gradualmente diminuindo.  Não porque seus protagonistas tenham tido uma metanoia mas porque se afastaram do projeto.  Deixei bem claro que só pessoas que levassem a pesquisa e o desenvolvimento a sério iriam participar.  Embora a todo tempo sempre apareceram os picaretas e sem-vergonhas, não se criaram no SIA.

Assim, o problema dos recursos humanos dentro do projeto foi parcialmente equacionado.  Entretanto, problemas ainda maiores foram aparecendo.  Estavam ligados às exigências, por vezes absurdas, da legislação vigente.  Também havia o fato de parte das necessidades do projeto eram de responsabilidade do próprio IAE.  Nesse quesito foi onde tive os maiores problemas (que serão relatados à frente).

Nos oito anos que passei a frente do Projeto SIA, houve um enorme salto tecnológico dentro da comunidade que envolvia o projeto.  Dois grandes laboratórios de alta tecnologia foram construídos e inaugurados com pompa e circunstância por ministros de estado.  Mais de 30 mestres e doutores foram formados com recursos do SIA e diversas tecnologias de ponta foram apoiadas.

Para conseguir isso enfrentei os mais diversos (e surpreendentes) tipos de problemas.  Fiz vários inimigos e perdi alguns amigos.  Cheguei a ouvir dizer que o projeto havia deixado muitas feridas.  Porque procurar trabalhar a sério deixaria feridas ?  A resposta a essa questão é complexa e me fez ver o desenvolvimento tecnológico do pais com outros olhos.  Atualmente, em algumas “lives” que fiz deixei bem claro que não é a falta de verba o verdadeiro problema que impede nosso desenvolvimento. 

Claro que recursos financeiros são fundamentais, mas existem outras causas mais impactantes.  Passei a mencionar nas muitas apresentações que fiz: “o sucesso abre portas, o que as fecha é o fracasso”.  Ou seja, existe dinheiro, mas não faz sentido ficar investindo milhões de reais e não ter retorno no recurso investido.

Se não é dinheiro o verdadeiro problema, qual seria ?  As diversas postagens que seguirão a essa irão apontar paras as verdadeiras causas do nosso atraso tecnológico.  Das dezenas de mestres e doutores formados no SIA, quase metade se mudou para o exterior.  Só isso já significa que tem algo muito errado acontecendo. 

O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados.  Arnaldo Jabor

Comentários

  1. Não à toa dizem que "o problema do Brasil são os brasileiros". Não podemos generalizar, mas a massa de ineptos só aumenta.

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