A PERÍCIA

 Na semana em que fizemos a inauguração, mencionada na postagem anterior, já estávamos ocupando o prédio.  O motivo principal não era simplesmente ter mais espaço de trabalho era estar próximo da obra que realmente interessava – o laboratório.  Esse ficava na continuação do prédio de salas e seria totalmente reconstruído.  Seria uma luta hercúlea para que esse laboratório ficasse minimamente de acordo com o projetado.

Assim que ocupamos o prédio de salas, no dia seguinte, já apareceu problema.  Alguém, passando por fora do prédio (que é térreo) notou que estava brotando água junto à parede do mesmo.  Na verdade, a água borbulhava para fora da terra.  Pedi, imediatamente, a um funcionário da Pikaretta que cavasse naquele lugar para saber do que se tratava.

Qual não foi a minha surpresa em saber que ali era a entrada de água do prédio e, pasmem, estava conectada à rede de águas do instituto através de uma mangueira de jardim (presa com braçadeiras).  A ligação deveria ser feita com um cano que suportasse a pressão da entrada de água, não com uma mangueira de jardim.  Não é à toa que tenha começado a vazar em grande quantidade.

Aquilo era mais que uma simples gambiarra, era um verdadeiro crime.   Devido à proximidade da parede e, portanto, das fundações do prédio, estava colocando em risco a própria estrutura do mesmo.  Imediatamente, solicitei que fosse desligada aquela gambiarra e ficamos sem água no prédio.

Fiquei tão indignado com a situação que resolvi ligar diretamente para o dono da Pikaretta.  Era a primeira vez (infelizmente não a última) que falava com ele ao telefone.  Expliquei o que havia descoberto e solicitei imediata correção do que havia sido feito.  Estranhamente, em vez de se desculpar, o senhor Pikaretta resolveu me encarar dizendo que iria solicitar perícia do local.

Em vez de me intimidar, ele despertou em mim uma grande fúria.  Eu disse para ele: “Pikaretta quem tem autoridade para solicitar perícia é juiz e esse não é o seu caso.  Ainda assim, não há nenhum problema que haja qualquer tipo de perícia, pois eu tirei fotos do local.  Qualquer autoridade que as ver irá fazer você devolver o dinheiro que já recebeu por fazer uma gambiarra dessas !”

A conversa se encerrou ali mesmo.  No dia seguinte, o problema foi consertado com a colocação do cano adequado.

Esse episódio tem aspectos impressionantes.  A gambiarra feita não visava economia. O custo do cano seria de apenas alguns reais.  O que acontecia (e aconteceu várias vezes como verão nas postagens seguintes) é que a empresa não fornecia o material necessário a obra e os funcionários procuravam dar um jeitinho porque recebiam por dia para fazer as tarefas a eles designadas.

A obra tinha mestre de obras bem como um engenheiro que a acompanhava.  Entretanto, isso não impedia os absurdos.  Passei a ter a certeza da conivência de todos eles com o que acontecia.  O que interessava era que o trabalho parecesse que tinha sido feito para que pudessem receber os pagamentos.  Não havia qualquer compromisso com a qualidade nem com a corretude da execução.

Cabia a mim, que seria o cliente final, impedir essa falcatrua institucionalizada, e eu estava disposto a encarar essa briga.  O fato de o dono da empresa mencionar uma perícia, era um blefe ridículo.  Isso seria tudo o que ele não queria.  Se houvesse uma perícia séria naquela obra iria sobrar para muita gente.  Principalmente para a própria Pikaretta, que já estava acostumada fazer esse tipo serviço porco.  Com a minha reação, não me intimidando, o senhor Pikaretta recolheu-se à sua insignificância.

Eu não precisaria ter feito nada disso.  Não era minha função nem responsabilidade.  Entretanto, eu sabia que se não fizesse ninguém faria.  Em toda minha carreira, estudei e me esforcei para construir alguma coisa.  O projeto que eu gerenciava era essa oportunidade.  Eu não negaria esforços para vê-lo concretizado.

"Você é importante para outras pessoas, assim como para si mesmo. Você tem um papel vital a ser exercido no destino em desdobramento do mundo."  Jordan B. Peterson

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