AGENTE TRIPLO

 A construção do laboratório começou com a demolição de todas as paredes pré-existentes e construção de novas em seus lugares.  A Pikaretta designou uma equipe de construção liderada por um mestre de obras chamado Ducal (nome fictício).  Como fiscal da obra, foi designado pelo instituto um militar chamado Taberna (nome fictício).  Do ponto de vista militar, Taberna não poderia estar exercendo essa função.  Isso aconteceu devido ao fato que  ele tinha formação em engenharia civil (formação independente da carreira) e havia necessidade de engenheiros para acompanhamento das muitas obras que aconteciam na organização.  Pelo menos foi isso que me disseram.

Nas primeiras semanas a obra estava indo bem.  Até que, em uma sexta-feira, aconteceu algo inusitado.  Ducal me procurou e me perguntou se eu não teria dinheiro para pagar seus funcionários.  Achei aquilo um despropósito absurdo.  Porque eu deveria pagar a equipe dele?  A empresa Pikaretta era a responsável pela obra e, portanto, pelos pagamentos.  Tentei explicar isso a Ducal e sua réplica me deixou alarmado.  Ducal respondeu: “é que Taberna sempre traz os pagamentos na sexta-feira e hoje ele não veio”.  Taberna !?!? exclamei.  Mas ele é o fiscal da obra.  Não tem nenhum vínculo com vocês nem com a Pikaretta.  Ducal percebeu que tinha falado o que não devia e se retirou da minha sala.

Na segunda-feira subsequente, já no início do expediente, chamei Taberna na minha sala.  Fui direto com ele: “Taberna que história é essa que é você quem faz os pagamentos da equipe que está construindo o laboratório ?”  Ele ficou meio sem graça e explicou que se tratava de um mal-entendido.  Ele morava na mesma cidade (próxima a São José dos Campos) onde a Pikaretta tinha a sede e ele estava apenas fazendo um favor ao dono da empresa ao trazer o envelope com o pagamento do pessoal.

É claro que eu não engoli essa conversa.  Mas o alertei que parasse de fazer isso imediatamente para que não fosse acusado de corrupção.  Pois era isso que parecia estar acontecendo.  Naquela mesma semana eu liguei para Ducal para que ele confirmasse a história que ele havia me contado.  Ele, de fato, confirmou (do jeito dele) o que havia me dito.  Entretanto, meu objetivo não era checar a história mas gravar o depoimento dele com o sistema de grampo que eu havia instalado no meu telefone (vide postagem Guará).

Não passou muito tempo, o próprio dono da Pikaretta me procurou.  Finalmente eu o encontrava pessoalmente.  Só que dessa vez eu não estava reclamando de nada. Ele é quem veio me pedir ajuda.  A conversa foi surreal.  Ele acusou Taberna, a quem ele havia contratado para conduzir a obra, de o estar roubando, através de desvio de material.  Ele havia corrompido o fiscal da obra, dando-lhe dinheiro para conduzir a obra que ele deveria fiscalizar.  O corrupto havia lhe passado para trás roubando-o também.  Se Taberna trabalhasse para os 2 lados seria um agente duplo.  Mas ele enganava os 2 lados trabalhando para si mesmo. Ou seja, ele era um agente triplo. 

Pareceria algum tipo de comédia se não fosse absolutamente real.  Era algo como se um traficante procurasse a delegacia para denunciar um policial que traficava para ele e houvesse desviado parte da droga para si.

Eu aconselhei ao Sr. Pikaretta a denunciar Taberna, além de demiti-lo imediatamente, é claro.  Ao mesmo tempo eu procurei, pessoalmente, o vice-diretor administrativo Coronel Patriota (nome fictício) para reportar o que estava acontecendo.  Afinal era um crime em curso e eu não sabia onde isso iria parar.  Alertei, também, Patriota de que havia feito uma gravação do mestre de obras falando do pagamento feito por Taberna.

Taberna foi afastado de suas funções imediatamente.  Fiquei, então, sabendo que havia também outras denúncias advindas de outras obras onde ele era o fiscal.  O mais bizarro desse episódio é que Taberna entrou na justiça contra Patriota por tê-lo afastado.  Não sei o fim desse processo mas creio que não deva ter dado em nada.  Muito embora já fosse o absurdo dos absurdos um corrupto processar um superior hierárquico (e muito superior) por afastá-lo da sua corrupção.  Na minha opinião, ele deveria ter sido preso e expulso da FAB, não apenas afastado do cargo.

Muitos que me conhecem me perguntam como consegui passar por tudo isso sem desanimar ?  Me baseando nas palavras do Salmo 37:1-5

Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.  Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.  Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.  Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração.  Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.

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