PROVIDÊNCIA DIVINA

 Uma vez instalados no prédio de salas, agora reformado, começamos a trabalhar intensamente nas atividades relativas ao Projeto SIA.  Simultaneamente, eu acompanhava de perto a construção do prédio do que viria a ser um grande laboratório de desenvolvimento de sistemas de navegação inercial.

Em um certo dia muito ensolarado, lá pelas 11:00, comecei a não me sentir muito bem.  Uma sensação estranha acompanhada de uma dor na nuca.  Normalmente isso é indicativo de pressão alta.  Como eu já tinha tido um infarte cinco anos antes, me preocupei que pudesse estar tendo algum problema ligado a isso.  Procurei, então, o posto médico que ficava a menos de 100 metros do prédio.

Fui caminhando até lá debaixo de um sol escaldante, pensando que isso poderia prejudicar ainda mais algum problema pelo qual eu estivesse passando.  Quando lá cheguei fui logo atendido e medida minha pressão arterial.  Estava 14x9.  Para alguém da minha idade e tendo caminhado até lá, isso não era exatamente pressão alta.  Então retornei ao meu prédio mais calmo.

Foi quando estava retornando ao prédio é que aconteceu algo mais estranho ainda.  Eu vinha caminhando e olhando para a obra que estava sendo executada na continuação do prédio de salas.  Pela posição do sol naquele momento, eu percebi uma sombra sobre o telhado do prédio, que não devia estar ali.  Aquilo me chamou a atenção de uma forma especial.  Como uma voz interior que me dizia: olhe com cuidado! 

Havia ao lado do prédio uma escada.  Eu a coloquei na parede na parte em que a sombra apareceu e subi nela para olhar.  Para meu horror, vi que o telhado havia se deslocado de tal forma que estava prestes a desabar sobre quem estava trabalhando em baixo.  Isso porque o prédio não tinha laje e sim um forro de isopor.  O que protegia da chuva eram as telhas calhetão, que estavam amarradas umas às outras, mas não estavam presas na viga central do telhado.  Naquele momento, duas delas haviam escorregado da viga (de concreto) e estavam presas apenas pelo atrito de suas bordas.  Como estavam amarradas umas às outras, uma vez terminado o deslizamento, haveria um efeito dominó e aquele lado do telhado cairia inteiro.  Desci a escada correndo e solicitei o imediato esvaziamento do prédio.

Naquele dia, haveria uma inspeção do comando e, obviamente, tive que cancelar.  Também chamei o engenheiro da Pikaretta, responsável pelo andamento da obra para ver o que eu havia descoberto.  Felizmente, eu tinha um bom relacionamento com ele e veio imediatamente.  Quando ele viu o que estava acontecendo, ficou em pânico.  É claro que ele percebeu que poderia ter havido uma tragédia.  O problema era tão grave e urgente que, dessa vez, não houve nenhum embate com o dono da Pikaretta. 

Combinamos um plano para solucionar o problema sem que fosse necessário a interdição do prédio, nem mesmo seu esvaziamento.  Em algumas semanas, tudo voltou ao normal. 

O que havia acontecido é que a pessoa contratada (terceirizada) para a colocação das telhas havia, propositalmente, deixado de prendê-las.  Se fosse um parafuso seria esquecimento, mas ele não havia colocado nenhum.  Isso era um verdadeiro crime e caberia um processo caso a Pikaretta se dispusesse a fazê-lo.  Eles estavam colhendo os frutos de não terem um staff próprio e sim viver de serviços terceirizados para redução de custos (e de qualidade).

O que mais me chama a atenção sobre esse episódio é a sequência de fatos incomuns.  Eu havia me sentido mal e não era nada.  Mas isso me fez andar fora do prédio em uma direção que eu não iria normalmente.  Além do mais, o horário em que isso aconteceu fez o sol projetar exatamente nas telhas que haviam escorregado causando a pequena sombra que, não sei como, acabei percebendo.  Por último, uma estranha sensação interior de que havia algo errado e que merecia minha atenção imediata.  Não sei como o leitor pode entender isso mas eu chamo de Providência Divina.

No momento em que nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor.  Como resultado da atitude, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado encontrar.  Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar.
A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a magia.

Johann Goethe

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