QUALIDADE MÍNIMA
Na década de 90, chegou um novo diretor ao CTA. Até aí nada demais pois isso acontecia, normalmente, a cada 2 anos. Entretanto, esse me marcou por uma característica singular. Ao chegar, O Brigadeiro Mangelstron (nome fictício) declarou que iria implantar na instituição a Qualidade Total !
Até então, eu nunca
havia ouvido falar de tal coisa. Para
mim, fazer algo com qualidade era (e ainda é): fazer bem feito; fazer com
cuidado; fazer com esmero; fazer com dedicação.
Assim, o conceito de qualidade total soava para mim como algo como uma
perfeição quase divina. Obviamente, isso
me chamou muito a atenção. Fiquei até
ansioso para saber do que se tratava e como seria feito.
Não passou muito tempo
e começaram a surgir as primeiras diretrizes. Para minha surpresa (na época) tratava-se de
orientações, instruções e procedimentos que só aumentavam a burocracia
existente sem uma implicação direta com o aumento da real qualidade (como eu a
entendia). Isso acabou por gerar um
certo tumulto de quem queria obedecer a tais diretrizes sem entender direito
para que elas serviam.
Participei de diversas
reuniões da minha divisão, para tentar esclarecer a situação e quais as ações efetivas
a serem tomadas. O tópico mais imediato
e importante era entender o que seria a tal qualidade que se queria otimizar,
tornando total. Para espanto de ninguém
a conclusão foi óbvia. Não se fazia as
coisas com qualidade, não por falta de orientação e normas, mas por falta de
vontade. Essencialmente a falta de
qualidade advinha da postura individual daqueles que não se esforçavam em fazer
suas tarefas bem feitas e corretamente.
Em outras palavras, para esses não havia qualidade nenhuma.
Eu já me irritava com o
tempo perdido com a burocracia inútil e estava gastando mais tempo e energia em
como torná-la mais inútil ainda. Foi
quando percebi algo bem óbvio. Não se pode
melhorar algo que não existe. Passei,
então, a defender a ideia de qualidade mínima. Seria preciso um mínimo de qualidade para
começar um processo de sua melhoria.
Essa ideia foi
considerada como uma brincadeira ou um desabafo, mas não era. Em minha mente, imaginava que se pudesse
convencer / motivar as pessoas a fazerem o seu melhor seria o primeiro passo
para se implantar um sistema administrativo / comportamental que gerasse uma
sinergia para produzir uma real qualidade.
Essa ideia se desfez quando confrontada com a realidade em que eu
vivia. Evidentemente, todo aquele movimento
se desfez quando da saída de Magelstron e tudo voltou “como dantes no quartel
de Abrantes”.
Não seria a primeira
vez que alguém achasse que podia resolver problemas comportamentais, que levaram
anos para se instalar, com algum tipo de decreto ou alguma novidade gerencial. Processos administrativos / burocráticos
perdem o sentido diante do comportamento de seus executores. Em outras palavras, nenhum método dá certo
com a pessoa errada. Mesmos as medidas
corretas levam tempo para produzirem resultados positivos. Além disso, é preciso esforço e perseverança
em implantá-las pois sempre haverá oposição daqueles que não desejam mudanças
(estão bem em sua zona de conforto).
Estive em minicurso de
um famoso palestrante que chamou a atenção para esse fato de achar que se promove
qualidade apenas com burocracia: “você pode certificar cocô!” Isso mesmo.
Se certificação for tão somente seguir uma receita de bolo de
procedimentos, porque não certificar cocô?
Hoje ainda penso que eu
estava certo. Talvez com um nome mais
atrativo, mas se não partirmos de uma qualidade mínima, não haverá o que
melhorar. Muito menos termos a tal
qualidade total.
“A qualidade não é um ato, é um hábito.” Aristóteles
“E, tudo quanto
fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens;” Colossences
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