PAREDE DESMATERIALIZADA

Após o afastamento de Taberna (vide postagem Agente Triplo) as obras do laboratório passaram a andar dentro de uma certa normalidade até a conclusão da laje.  Digo isso porque essa laje tinha um vão livre de 10 metros e deveria suportar não apenas o peso do telhado, mas também o maquinário de um ar-condicionado especial.  Ou seja, precisava ser bem feita para não haver problemas estruturais posteriormente.  Já bastava o susto descrito na postagem Providência Divina.

Estranhamente, após a conclusão da laje, os problemas recomeçaram.  A equipe que trabalhava na obra, até então, foi novamente trocada.  Uma nova leva de incompetentes e alucinados surgiu para dar continuidade à construção do laboratório. 

Todos os dias, mais de uma vez ao dia, eu ia visitar os trabalhos e tinha que subir na laje (que ficava a mais de 6 metros do chão) através de uma escada de madeira que ficava encostada na parede.  No primeiro dia que fiz isso me deparei com uma poça de urina em cima da laje que ainda borbulhava (havia acabado de ser produzida).  Perguntei ao encarregado o que era aquilo.  A resposta foi:” o que você acha ?”  Minha tréplica foi bem assertiva:  “Existe um banheiro bem aqui ao lado da obra e nada justifica essa atitude porca.  Tenho certeza de que nenhum de vocês faz isso em sua própria casa!”  Esse fato me alertou para o tipo de gente com quem eu estava lidando e voltei a utilizar minha modesta câmera digital em todas as vezes que subia na laje. 

Na semana seguinte, pela manhã vi um pedreiro parado reclamando da falta de material.  Fui falar com o encarregado que me disse que o tijolo para construir aquela parede não havia ainda chegado.  Fiquei prestando a atenção se chegava algum caminhão com material e não vi nada acontecer até o fim da tarde.  Então, subi novamente a laje para ver o resultado do dia de serviço.  Na minha mente, mais um dia perdido por uma simples falta de organização que não trouxe material básico para a obra, que se sabia que seria necessário com muita antecedência.

Quando cheguei em cima da laje, vi o pedreiro concluindo aquela parte da parede que lhe cabia fazer.  Fiquei gratamente surpreso e lhe disse: “que legal hein ?  então o material chegou e eu nem vi.”  Achei estranho que ele não respondeu, nem mesmo levantou a cabeça pra me olhar.  Aquela atitude fez com que soasse, imediatamente, um alarme na minha cabeça.  O que teria acontecido ali ? 

Olhei então ao redor.  Como eu estava constantemente ali, qualquer modificação no cenário me chamaria a atenção.  Foi quando percebi que a parede equivalente àquela que o pedreiro havia construído, e ficava no lado oposto da laje, havia sumido !  A parede havia de desmaterializado e reapareceu no outro lado...  O pedreiro, que ganhava por dia, desmanchou uma parede que já estava construída para reutilizar seus tijolos e assim ganhar sua diária.

Eu não precisava de nenhuma explicação, nem iria perguntar mais o óbvio àquela gente.  Afirmei em voz bem alta: “eu não acredito no que você fez.  Você desmanchou a parede que já estava pronta para fazer a sua!”   Tirei fotos da situação e desci a laje bufando de ódio.

Evidentemente, eu relatei o ocorrido ao engenheiro da Pikaretta, responsável pela obra.  Mas o que poderia ser feito?  O prejuízo era, primeiramente, da própria Pikaretta que teria que pagar duas vezes pelo mesmo serviço.  O que ele fez foi dizer que compensaria esse pequeno atraso, e só.

O episódio não mostrava apenas pessoas sem escrúpulos.  Eu cansei de ouvir a frase “estou facilitando o meu lado” de todos aqueles cretinos que não se importam com as consequências de suas ações.  Mostrava acima de tudo que todo trabalho, que deveria ser feito em equipe, não podia contratar pessoas avulsas sem compromisso com o todo.  Que estão ali apenas para ganhar sua diária e depois desaparecer.  Ninguém se responsabilizava por nada. 

Verdadeiros líderes sabem que para se alcançar grande objetivos é preciso dar à sua equipe a visão de que são parte de um todo que precisa funcionar como um corpo.  Caso contrário um destruirá o trabalho do outro e teremos paredes desmaterializadas. 

“Todos são peças importantes no trabalho em equipe, cada um representa uma pequena parcela do resultado final, quando um falha, todos devem se unir, para sua reconstrução.  Salvador Faria

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DE VOLTA PARA O FUTURO

O FURO

DESABAFO