TELHADO DE GALINHEIRO

 Uma vez que laje já havia passado pelo seu período de cura, o próximo passo seria a colocação do telhado.  Foi quando fiquei sabendo que a Pikaretta havia comprado as tesouras (estruturas em forma de triângulo que sustentam um telhado) já prontas.  Chegaram em um caminhão enorme pois tinham 11 metros de comprimento e eram de madeira de ótima qualidade, embora muita antiga. 

Quando indaguei de onde vinha aquilo, me disseram que havia sido adquirido da antiga Granja Itambi (que havia encerrado as atividades algum tempo antes).  Em outras palavras, era um telhado de galinheiro.  A princípio, não vi nada de errado com isso pois, como disse antes a madeira era de ótima qualidade.  Além disso, achei que isso adiantaria a obra pois as tesouras já estavam montadas e, portanto, economizaria o tempo de construí-las. Ledo engano.  No dia seguinte, começaram a aparecer os problemas.

As tesouras tinham 11 metros de comprimento enquanto a largura do prédio tinha 10 metros.  Isso faria que as tesouras ficassem com as pontas de fora do prédio.  Não era apenas um problema estético, mas essencialmente estrutural.  Os esforços da tesoura, já montada, se concentravam em suas extremidades, pois foram feiras para um vão livre e não para serem apoiadas em cima de uma laje.  Fiquei observando qual a solução que seria dada.

No dia seguinte, pela manhã, caminhando dentro do prédio em construção, comecei a ouvir um barulho um tanto diferente do usual – pack – pack – pack.  Me dirigi para fora do prédio e me deparei com a seguinte situação: havia um homem tentando cortar a ponta de tesoura com um facão.  Era uma situação de comédia.  A madeira da tesoura tinha 25 cm de largura.  As duas juntas, que formavam ponta, tinham quase meio metro e o sujeito pretendia cortar com um facão.  Ele levaria um dia inteiro naquela tarefa, além de que o corte sairia totalmente desuniforme.

Eu, educadamente, lhe disse: “amigo porque você não usa uma serra elétrica portátil que a empresa tem?”  Ele me olhou com uma cara enigmática como se não soubesse do que eu estava falando.  Percebi que estava perdendo meu tempo ali e procurei o encarregado do pessoal lhe perguntando: “você tem certeza de que esse carpinteiro sabe o que está fazendo?”  A reposta foi: “nós o encontramos hoje pedindo trabalho e decidimos lhe dar uma chance”.  Ou seja, o rapaz não tinha nenhuma qualificação e deram a ele uma tarefa que ele não tinha a mínima idéia de como executar. 

Desistiram de cortar as pontas das tesouras de galinheiro pois perceberam que iria dar um trabalho enorme e teriam que desmontar a tesoura.  Ou seja, perderiam toda da vantagem de terem adquirido aquilo.  A solução foi tão brilhante como um buraco negro.  Resolveram colocar as tesouras inclinadas sobre a laje e não na perpendicular como deveria ser.  Achei aquilo um absurdo total, mas não tinha autoridade para dizer que não deveria ser feito.  Contratualmente, eles deveriam colocar um telhado lá e fim.

Puseram o telhado de galinheiro em cima da laje com um tipo de guindaste enorme e começaram a montar as vigas.  Fui eu lá para cima da laje, pela mesma escada de madeira, e minha câmera digital.  Assim, flagrei o inacreditável.  Quando você une duas vigas de madeira, elas são cortadas em ângulo, de tal forma a se encaixarem para que uma seja a continuidade da outra, apoiando-a.  Chama-se isso de espera.  O tal curioso do facão havia montado a espera de cabeça para baixo, de forma que ela cairia pelo próprio peso (imagine se colocasse um telhado em cima).  Primeiramente, ele pregou as duas vigas no corte da espera.  Como ela começou a se desprender pelo próprio peso ela a enrolou com um arame.

Quando vi aquele descalabro, tirei fotos e mandei para o comando do CTA com a seguinte frase: “olha a que nível chegamos”.  Eu estava me preparando para mais um embate com a Pikaretta e quem sabe por vias judiciais.  Eu não poderia deixar que um laboratório tão sofisticado como seria aquele, fosse construído daquela maneira (pior que um galinheiro).

No dia seguinte procurei o engenheiro da Pikaretta e disse a ele que parasse a construção do telhado pois precisaríamos discutir outra solução.  Quando o engenheiro ligou para o Sr. Pikaretta, eu ouvi quando o mesmo falou: “o Waldemar não manda nada!”.  Imediatamente, liguei para o corpo de guarda que tomava conta da entrada do instituto e comuniquei que os empregados da Pikaretta não estavam mais autorizados a entrar no IAE. 

O dia seguinte diria quem é que mandava ali.

Comentários

  1. Interessante que neste tipo de situação parece que ninguém está vendo algo que ruma a uma catastrofe!! É como sair gritando ao ver um comportamento do mar semelhante a um tsunamy e as pessoas ao redor nem se manifestam ... quem se identifica???

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