SUSPICIOUS MIND

 Em 2004, durante uma visita a uma grande instituição governamental estrangeira, me foi contado esse episódio.  Eles haviam concluído recentemente, com sucesso, o projeto de um lançador de satélites muito avançado.  Não vou identificar o local por respeito à confidencialidade e também para poupar o vexame.

O projeto era extremamente secreto e havia grande temor de sabotagem.  Em um certo momento os mecanismos de inteligência, que monitoravam todo o local onde era desenvolvido o veículo, detectaram um sinal de rádio não identificado, que saía de dentro do campus.  O tal sinal começava juntamente com o expediente e parava com o término do mesmo.  Isso disparou o alarme da inteligência – estamos sendo espionados por algum funcionário!  Ele está transmitindo informações para fora sem que percebamos.

Foi montado, então, um grande esquema para identificar o tal espião.  Com a desculpa de desinfecção do local, paulatinamente, foi suspenso o expediente de um prédio de cada vez dentro da organização.  Esperava-se, com isso, identificar em que prédio trabalhava o meliante.  No dia em que o prédio onde ele trabalhava fosse o escolhido, o sinal desapareceria.  Assim aconteceu e identificaram o prédio.

A partir dali um processo semelhante foi utilizado por setor dentro prédio.  Davam um dia de folga para cada setor com algum tipo de desculpa.  Finalmente, identificaram o setor e através de um subterfúgio análogo chegou-se ao personagem procurado.  Para ter-se certeza, esperou-se que ele chegasse ao trabalho e como o sinal espúrio apareceu junto, deu-se-lhe voz de prisão. 

Lhe disseram que ele estava sendo detido por espionagem e o tal funcionário levou um susto e mostrou-se totalmente surpreso – tipo: como ? quando ? onde ? o que está acontecendo ?  Foi inicialmente revistado e nada encontraram.  Até que foram ao seu carro e finalmente encontraram a “prova”.  Havia, de fato, um emissor escondido em seu veículo. 

Tratava-se de um rastreador (na época uma novidade) que havia sido colocado por sua esposa por suspeitar que ele a estava traindo.  Ela queria saber por onde ele andava.  Nem ele sabia que estava sendo monitorado.

Não perguntei se o tal fulano estava, de fato, traindo a esposa.  Mas imagino que o relacionamento dos 2 não deve ter continuado o mesmo.  Depois da humilhação e estresse sofrido no trabalho, devido à desconfiança dela, alguma grande transformação (ou destruição) deve ter ocorrido. 

É irônico e, ao mesmo tempo, hilário que um simples problema de relacionamento de casal possa se tornar um assunto de segurança nacional e despender um enorme gasto de tempo e energia para ser esclarecido.  As justas preocupações com segurança aliadas às mais modernas tecnologias acabaram por serem vítimas de um dos mais primitivos sentimentos humanos – ciúme / desconfiança. 

Essa história me foi contada por um dos participantes daquela situação.  Ele a descreveu como uma piada e não uma crítica ou desabafo.  Isso porque, apesar de tudo, alcançaram um grande êxito no que estavam fazendo.  Os percalços ficaram com histórias a serem contadas.  Como parte das batalhas que foram lutadas para vencerem uma guerra.

Os homens não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que os levam a fazer aquilo que fazem.  Platão

 

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