TRINDADE PAGÃ
Numa certa noite, no final da década de 90, eu estava em frente à Universidade Braz Cubas (onde fui professor por 8 anos) aguardando o ônibus para voltar para casa. Também havia ali, naquele momento, dezenas de alunos que tinham o mesmo objetivo – voltar para São José dos Campos.
Tive, então, a oportunidade de ouvir a conversa de um
pequeno grupo. Estavam discutindo sobre
uma notícia recente de que Bill Gates havia comprado o direito autoral de
diversas obras de arte famosas. Ouvi
quando um deles perguntou: “ele já é o homem mais rico do mundo (naquela época)
para quê ele quer mais dinheiro ?
Naquele instante, num impulso, não pude me conter e me
intrometi na conversa. Perguntei eu:
vocês não sabem ? Todos menearam a
cabeça. Pude, então, explicar: ele não
quer mais dinheiro, ele quer mais poder!
Os alunos demoraram um pouco para entender o que eu havia dito.
Passei então a dar alguns exemplos de como a ambição das
pessoas as levam a querer sempre mais, não apenas dinheiro, mas também
influência, status e finalmente poder.
Citei o exemplo de Salomão que tinha 700 esposas e
trezentas concubinas, não porque fosse tarado ou insaciável mas porque o
tamanho do harém era símbolo de status e poder.
Atualmente já não se espera que alguém exiba seu prestígio através no
número de esposas. Entretanto, de forma
similar, atletas e artistas que alcançam um grande sucesso passam a adquirir
carros caríssimos (que raramente usam) e mansões (mais de uma) para, através
disso, demonstrar seu status de topo da pirâmide social. Também exibem mulheres lindíssimas e,
frequentemente, se envolvem em escândalos sexuais. Evidentemente, isso também atinge grandes empresários
e todo tipo de gente revestido de alguma proeminência.
Passou-se a chamar de trindade pagã – dinheiro, sexo
e poder – 3 elementos que se interrelacionam de forma indissociável. Não se trata apenas de uma referência blasfema
da Trindade bíblica mas uma forma real de adoração. Seus adoradores estão dispostos a tudo para
alcançar o nível máximo da sua essência. Normalmente, são aquelas pessoas que consideram
que os fins justificam os meios (mesmo que não o declarem abertamente). Sacrificam a ética (se é que a tem) em troca
de alcançar seus objetivos. Na verdade,
estão vendendo suas almas para a divindade.
Pode-se pensar que essa adoração só atinge pessoas ricas e
poderosas. Mas atinge todo tipo de
pessoa. Em minha vida profissional, vi um
sem número de indivíduos que abriram mão daquilo que sabiam ser o certo a ser
feito para não terem sua imagem manchada de alguém intransigente (mas
transigente com o erro) ou malvado. Ou
seja, aspiravam algum tipo de adoração pois queriam assim mostrar uma falsa
imagem do que não eram. Também haviam
aqueles que almejavam promoção de cargo/patente e qualquer ação que gerasse
barulho poderia atrapalhar. Assim, em
vez de ser parte da solução passavam a fazer parte do problema.
A ideia de crescer profissionalmente não é, de forma
alguma, errada. Uma maneira bem objetiva
de saber a diferença entre o desejo de crescer e a adoração à trindade pagã é o
que o indivíduo faz com o poder / autoridade que adquire. Se usa isso para resolver problemas, ajudar e
abençoar pessoas, então é uma ambição legítima.
Se, no entanto, usa o poder adquirido para alcançar mais poder, então é
um adorador da trindade pagã. E como
todo adorador, se tona servo da divindade que adora.
Então, passam como passa o
vento e seguem; fazem-se culpados estes cujo poder é o seu deus.
Bons conselhos!
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