OPORTUNIDADE PERDIDA II
Na década de 90, um grupo de pesquisadores civis e militares se organizou em torno do assunto sistemas de navegação inercial para começar uma série de simpósios SBEIN (Simpósio Brasileiro de Engenharia Inercial). Marinha, Exército e Aeronáutica tinham participação efetiva nesses encontros, bem como instituições civis como INPE e Petrobrás. Decidiu-se, então, que cada uma dessas instituições se responsabilizaria, alternadamente, para organizar o SBEIN, a cada 3 anos. Também se tornou praxe alternar as cidades que lideravam o assunto – São José dos Campos e Rio de Janeiro.
No início de 2004, era tempo de organizar o IV SBEIN. Como o anterior havia sido no Rio, agora era
a vez de São José dos Campos. Como eu
era um membro ativo desse grupo de especialistas, pensei que pudesse ser uma
boa oportunidade do meu instituto sediar esse evento. Afinal, ninguém havia ainda se candidatado a
fazê-lo.
Procurei a administração do IAE e fui instruído a procurar
o ITA pois, dentro do centro, era a instituição que organizava eventos desse
tipo. Consegui o telefone do setor
responsável e liguei pra lá. Fui atendido
por uma pessoa que parecia que queria se livrar de mim. Expliquei minhas intenções e recebi uma
resposta, no mínimo, confusa. Ela disse
que não era comum esse tipo de pedido e deu a seguinte instrução: “Vai tomando
todas as atitudes que achar necessário e vá nos comunicando !”. Ou seja, não iria fazer absolutamente
nada. Não deu orientação alguma. Mas iria acompanhar minhas ações. Na verdade, ela não sabia o que fazer (ou não
queria) e sua proposta negava sua própria existência.
Fiquei bastante surpreso, mas não desisti da
empreitada. Lembrei-me que o INPE sediava
muitos eventos científicos e procurei contato com o setor responsável. Fui atendido com muita educação e a atendente
demonstrou imediato interesse na minha proposta. Após minha breve explicação, ela me deixou de
queixo caído quando falou: “vou lhe mandar por e-mail uma ficha padronizada
para esse tipo de evento, onde você só assinala com um X o que precisa e nós
cuidamos do resto.”
A diferença era tão grande que desisti que coordenar o
evento e liguei para um colega do INPE, que também participava dessa área, o Dr.
Paulo Milani (já falecido). Sem maiores
delongas lhe disse que assumisse a coordenação do evento. Foi o que ele fez e foi um sucesso.
Isso seria apenas um dos muitos exemplos de descaminho de
setores que deveriam apoiar e não o fazem.
Mas esse, em especial, deixou um certo trauma que só vim a perceber
alguns anos depois.
Em 2007, durante um simpósio do comitê de espaço da Federação
Internacional de Controle Automático IFAC, do qual eu fazia parte, fui convidado
a organizar o próximo evento (seria em 2010).
Eu fazia parte desse comitê desde 1995 e fui desafiado com a seguinte
frase: está na hora do Brasil sediar esse evento. Seria a primeira vez, desde que o comitê
existia (fundado em 1963) que teríamos um evento desse porte na américa
latina.
É claro que era uma grande honra para mim e para o próprio
país. Mas, imediatamente, me venho à
mente o que havia acontecido 3 anos antes.
Eu teria que preparar tudo em algum hotel da cidade que tivesse espaço para
esse tipo de evento. Mas não sabia se
poderia contar com o apoio da minha própria organização. Poderia ser que eu não tivesse autorização
para isso.
Confesso que me acovardei e declinei do convite. Até hoje me angustio sobre essa oportunidade
perdida. Não sei o que poderia ter
acontecido se tivesse aceitado. Teria eu
competência para organizar tal evento ?
Se tivesse organizado o IV SBEIN eu teria uma boa experiência anterior,
mas não tinha. Não sei que óbices iriam
aparecer, fruto do descaso institucional, tipo “quem mandou inventar isso ?”
Ficar pensando nas oportunidades perdidas só
nos desvia a atenção das que ainda vão chegar.
Realmente, organizar evento requer experiência. Sem o apoio de uma empresa do setor, é loucura.
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