CARAMURU
Em 02 de novembro de 1997, foi feito o lançamento do primeiro veículo lançador de satélites VLS. Foi o coroamento de esforços de mais de 1000 técnicos e engenheiros por 8 anos. Infelizmente, um dos 4 motores do primeiro estágio não acendeu e o veículo teve que ser destruído antes do término desse estágio.
Para todos os que trabalharam duro nesse projeto, foi uma
frustração bem grande. A imprensa
internacional noticiou o fato, lamentando o ocorrido e dando detalhes técnicos
tanto do veículo como da causa do insucesso.
Na mesma semana, fomos surpreendidos por uma reportagem, em
um jornal nacional de grande circulação, de um articulista que me recuso a
nomear. O título da reportagem: “foguetinho
caramuru deu chabu”. Era uma referência jocosa
a uma propaganda da minha infância de uma fábrica de fogos de artifícios chamada
Caramuru (um personagem da história do Brasil).
A propaganda dizia: fogos Caramuru não dão chabu. Com isso dizendo que seus produtos não
falhavam.
A reportagem em questão zombava do insucesso do lançamento,
como sendo prova da nossa incompetência como nação de fazer algo que
prestasse. Causou uma enorme fúria de
todos na organização.
Um dos meus companheiros, oficial da Aeronáutica, mandou
uma mensagem por e-mail para o tal articulista, convidando-o a conhecer o
instituto e o projeto do VLS. Seria uma
maneira bem elegante de calar a boca daquele idiota, que nunca respondeu à
mensagem.
O comentário era despropositado. Não avaliava (provavelmente nem tinha
condições de fazê-lo) a dificuldade que é construir um foguete capaz de lançar
uma carga em órbita. Nenhuma nação
conseguiu fazê-lo no primeiro lançamento e até hoje, quase 30 anos depois,
nações com tecnologia espacial extremamente avançada continuam perdendo
lançamentos.
Seu objetivo era o deboche, a chacota. Era mais um ativista da síndrome de
vira-latas. A síndrome de vira-latas é um conceito criado pelo dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues em 1958, que se refere à sensação de inferioridade que muitos brasileiros sentem em relação a outras nações. Valoriza-se tudo que é estrangeiro, em
detrimento do produto nacional.
Esses ativistas, seja para lucrarem alguma coisa com isso,
seja simplesmente para menosprezar aquilo que são incapazes de alcançar, procuram
inculcar nas mentes dos incautos, que somos uma raça de estúpidos e incapazes.
Recentemente, vi um artigo de Ozires Silva (cofundador da
Embraer) falando de uma conversa no exterior em que ele teria ouvido que somos “assassinos
de nossos heróis”. Ou seja, faríamos
questão de menosprezar aqueles que deveríamos valorizar.
Em minha vida profissional tive o privilégio de visitar 31
países. Posso afirmar que temos sim
muitos problemas como povo e sociedade, mas também temos muitas virtudes. Ficar remoendo os problemas sem lhes
apresentar solução é tão doentio quanto os próprios problemas. Chega de dar ouvidos a essas aves de mau
agouro. Baseados em nossas virtudes, podemos e devemos caminhar para dar solução a esses problemas e prosseguir de
cabeça erguida.
De minha parte, farei tudo o que estiver ao meu alcance
para ensinar o que sei para as próximas gerações incluindo os verdadeiros
valores de caráter.
Dos filhos deste solo és mãe gentil. Pátria amada Brasil !
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