COINCIDÊNCIAS

 Em 22 de agosto de 2003, tivemos uma tragédia para o programa espacial, com o acidente do VLS que vitimou 21 colegas meus.  O foguete, quase pronto para lançamento, teve um acendimento intempestivo que destruiu não apenas o próprio veículo bem como toda a estrutura ao seu redor.

Aquela seria a terceira tentativa de se obter uma satelização com um foguete brasileiro.  Evidentemente, tudo o que estava a bordo foi perdido.  Inclusive a plataforma inercial (fundamental ao guiamento do veículo) que havia sido comprada, de forma sigilosa, da Rússia.

Então, aconteceu um episódio estranho.  No próximo fim de semana ao acidente, entre sexta e segunda-feira, 5 pessoas diferentes, que não tinham relacionamento entre si (algumas nem se conheciam) me procuraram e fizeram exatamente a mesma pergunta: “quantas plataformas inerciais ainda têm para usar no VLS ?”

Aquela era uma informação sensível e comecei achar muita coincidência, em um tão curto período de tempo, que se fizesse a mesma pergunta e por pessoas diferentes.  Nas duas primeiras vezes eu dei uma resposta evasiva que havia aprendido como o lidar com os russos: “o suficiente”, respondi eu.  Já na terceira vez comecei a responder com outra pergunta: “quem quer saber?”  Isso deixava o interlocutor sem ação e se desculpando: eu só estava curioso, ou eu só queria saber...

Não era possível ser uma simples coincidência o que estava acontecendo.  Algum personagem oculto estava querendo saber essa informação, de forma bastante sutil e insidiosa.  Eu me lembrei de um provérbio chinês “Se o cavalo vence a primeira vez, é sorte; se vence a segunda é coincidência; mas se ganha pela terceira vez, aposte nesse cavalo”.

Na verdade, eu já estava preparado para essas coincidências.  Não era a primeira vez que eu recebia algum contato e interesses estrangeiros por informações sobre nosso programa espacial (vide postagem Espionagem).  Embora, dessa vez não fosse tão explícito, eu já estava acostumado com esse tipo de abordagem. 

Uma pergunta recorrente que eu recebia de vendedores de produtos e serviços estrangeiros era: “do que vocês estão precisando?”  Pode parecer uma pergunta simples e até necessária, mas não é.  É sim, uma forma de se obter informações sobre o que você está fazendo.  Também não se trata de saber de algum conhecimento secreto para roubá-lo.  O objetivo é poder obstruir o andamento do seu trabalho.  Sabendo o que se está fazendo é fácil saber o próximo passo e bloqueá-lo.

Não se trata de nenhuma teoria conspiratória, é real.  Existem sim, interesses ocultos que visam impedir nosso desenvolvimento técnico / científico.  Seja com objetivos puramente econômicos, seja com objetivos de jogo de poder político (nacional e internacional).  As formas de ação são as mais diversas e imprevisíveis.  Normalmente se travestem de boas intenções.  O importante é estar atento às coincidências. 

 "Porque o mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas." - Caio Fernando Abreu

“Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz.”  Jesus (Lucas 8:17)

Comentários

  1. Sr.Waldemar, é possível uma plataforma composta somente por sensores mems fornecer a navegação inercial de um foguete satelizador? No programa dos foguetes patrocinados pela Finep, um dos consórcios supostamente adotarão essa solucao

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