A SOLDA
Em 1982 eu já havia deixado o projeto ROLAND e estava trabalhando no projeto ATTMM (Aquisição de Tecnologia em Tele-direção e Materiais para Mísseis. Isso não significava que o ROLAND tivesse sido abandonado. Decidiu-se começar a nacionalização do sistema (que era o objetivo do projeto) pelo veículo lançador do míssil. A equipe que trabalhava nisso trabalhava no mesmo prédio do projeto ATTMM.
Depois de um grande esforço de engenharia e burocracia conseguiram
construir um protótipo da torre de lançamento do Roland, que foi montada sobre
uma viatura convencional já existente.
Na véspera do ensaio de aceitação do sistema (não lembro se era para um
tiro real ou não), o veículo foi transportado para o local de teste em uma
carreta de transporte própria para isso.
Lembro-me claramente desse dia quando um dos engenheiros
que trabalhava no projeto, adentrou na sala, com os olhos esbugalhados, dizendo
que havia acontecido um acidente e toda a viatura com a torre tinha sido
destruída. Hoje, fico triste em lembrar
que não demonstrei a empatia que aquele nosso colega precisava naquele momento.
Logo, mais notícias chegaram com detalhes do ocorrido. O engate da carreta transportadora havia se
partido em uma subida e descendo de ré, caindo em uma depressão, havia
destruído o que estava em cima. Por sorte, ninguém havia se ferido. A
questão então se voltou para o tal eixo que havia se partido. Soube-se que ele havia passado por manutenção
recente e recebido uma solda. Isso
significava que o tal eixo de engate não estava íntegro originalmente e havia
sido remendado.
Foram procurar o setor responsável por essa manutenção e
encontraram o executor da solda. A resposta
dele foi padrão: “a solda atendeu às normas”. Não houve nenhuma consternação pelo ocorrido
(imagino que nenhum sentimento de culpa).
Mais uma vez, aplicava-se a mote:
“a operação foi um sucesso, pena que o paciente morreu”.
Um projeto importante e caro havia sido destruído por uma
simples solda e, até onde sei, não houve nenhuma investigação formal para
identificar onde estava o real motivo da quebra da solda. Talvez a própria norma de soldagem estivesse
equivocada e precisaria ser revista. Talvez tivesse havido displicência na execução da tarefa. O fato é que ninguém foi responsabilizado. Infelizmente,
aquele projeto foi descontinuado depois do acidente.
Naquela época eu tinha apenas 4 anos de formado e já estava
tendo contato com o que há de pior no setor de engenharia desenvolvimentista. Ninguém se acha responsável por nada. A postura natural é: fiz minha obrigação, o
resto que se dane. Nenhum trabalho em
equipe pode ser bem sucedido com essa postura.
Ao longo da minha carreira vi outros casos
semelhantes. Projetos foram encerrados,
não porque o mesmo fosse equivocado ou desnecessário, mas porque algo dava errado. As vezes parecia que só estavam esperando que algo desse errado para encerrar algo que já não se queria que estivesse acontecendo. Os gestores encaram as falhas como um
demérito à sua imagem e o sucesso devido à sua competência. Todos conhecem o ditado de que filho feio não
tem pai. Eu acrescento: e filho bonito
tem família grande. Todos querem lucrar
com o sucesso, mesmo que não tenham contribuído para tal.
É claro que, em todo desenvolvimento, acontecem falhas. Mas elas devem conduzir a reflexão (para não
acontecer novamente), a união (um dando apoio ao outro) e a motivação (vamos
fazer melhor).
Nossa maior
fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma
vez. Thomas Edison
Referente ao artigo “ Solda do Engate”, faço minha consideração como especialista em soldas por 17 anos Formado pelo Instituto Eutectic + Castolin de Louseane -Suíça com sede também no Brazil líder mundial em Soldas, Revestimentos e Manutenções; por uma solda o Airton Senna morreu. Procedimento de aplicação de solda perfeitamente Viável desde que aplicado dentro dos preceitos orientado e acompanhado por especialistas, como assim fiz por longos 17 anos. A incoerência do fato seria o amadorismo no ato da execução do procedimento sem o dever um ritual tecnológico e a banalização do procedimento. No caso do piloto Airton Senna ninguém foi responsabilizado, apesar de que o piloto morreu feliz por estar fazendo o que gostava, andar a 300km/h.
ResponderExcluirO x da questão está no amadorismo como tratamos as coisas de um modo geral e desrespeitamos os sinais de que vai dar BO e mesmo assim “toca-se o barco!”
Materiais expostos a esforços extremos devem ser tratados com orientações de canais competentes. Em meu conceito profissional jamais aceitaria uma falha tão elementar sem ter responsabilidade técnica! Assim tocamos nossos projetos com rigor na formação, planejamento e displicência na execução que é sem dúvidas a Cereja do Bolo!
Obrigado pela oportunidade em me expressar!
Como professor atuante aos 70 anos fico triste que se banalizem o conhecimento científico sem assumir responsabilidades! Quando um cliente perguntava se tinha garantia o processo eu respondia que não, mas muito mais mera garantia que se discute juridicamente, nós colocaríamos compromisso com o sucesso do empreendimento e isso requer estar junto de chão a chão! Denominamos como Competência!
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