IDADE DA PEDRA
Em 2006 estive visitando a IAI – Israel Aircraft Industries. Uma de suas subsidiárias a MBT – System and Space Technology produz o Shavit um veículo lançador de satélites totalmente de combustível sólido. Nosso VLS também era assim e havia interesse em buscar alguma cooperação para o seu sucessor o VLM (muito semelhante ao Shavit). Fomos muito bem recebidos e cheguei até a visitar o local onde estava sendo montado o Shavit.
Tivemos uma série de reuniões técnicas e, em uma delas,
ocorreu um episódio digno de nota. Estávamos
em reunião com um especialista em aerodinâmica.
Não me lembro do seu nome, então vou chamá-lo de Aldebarã. Aldebarã era bastante expansivo e loquaz – típico
de um professor que se orgulha do que sabe.
Estávamos discutindo alguns aspectos de como controlar os
fenômenos aerodinâmicos, quando ele citou um fenômeno que eu não conhecia. Eu disse a ele que nunca havia ouvido falar
daquilo quando ele deu uma gargalhada e perguntou: vocês estão na idade da
pedra ? Dei um sorriso sem graça e
disfarcei respondendo: “nem tanto, talvez na idade do bronze”.
Não me senti pessoalmente ofendido pois não era minha área
de conhecimento e não tinha, de fato, obrigação de saber. Entretanto, foi uma “brincadeira” bastante
deselegante. Imaginei que Aldebarã, como
professor, tivesse o hábito de escarnecer dos alunos que falassem alguma asneira
(conheci alguns professores que procediam assim). Acontece que não estávamos em uma sala de
aula e sim em uma discussão entre especialistas.
Não sei dizer se devido simplesmente à postura de Aldebarã,
mas não houve continuidade naquelas conversas.
Creio que teríamos lucrado muito, do ponto de vista técnico, se tivéssemos
dado continuidade em uma cooperação com eles (independente de um sem noção como
Aldebarã).
Quando me lembro desse episódio, medito em quantas vezes me
vi envolvido em discussões que se perderam devido a posturas semelhantes à de
Aldebarã: zombar do desconhecimento dos outros.
Mesmo que, mais do que desconhecimento, seja por incompetência, expô-la
publicamente não leva uma mudança sadia de comportamento nem conduz à solução
dos problemas. Pelo contrário, pode
agravar o relacionamento e, portanto, prejudicar o caminho da solução.
Tal postura só mostra um lado sombrio de quem a tem. Excesso de confiança pode levar à arrogância. Podemos ser orgulhosos do que sabemos, mas
jamais arrogantes. Necessidade de
mostrar que sabe esconde insegurança e/ou desejo de se sentir superior. O verdadeiro professor tem prazer em ensinar
o que sabe e se alegra em ver o progresso dos seus alunos - saindo das trevas da ignorância para a luz do conhecimento.
Se alguém julga
saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. 1 Coríntios 8:2
Os que forem
sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos
conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente. Daniel 12:3
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