MUI AMIGO
Em 2001, surgiu uma oportunidade de ministrar um curso rápido (short course) na pós-graduação da Universidade de Glasgow. Eu havia conhecido um professor de lá, que tinha vindo ao Brasil para ministrar um curso aqui no CTA. Seria uma boa ocasião para divulgar o projeto do VLS (Veículo Lançador de Satélites) do qual eu era o responsável pelo sistema de controle. Também de manter contato com profissionais de alto nível da mesma área.
O financiamento do curso deveria ser compartilhado. As passagens áreas seriam pagas pelo British
Council. Enquanto as diárias deveriam
ser pagas pelo CNPq. Em função disso,
fiz todo o processo de solicitação desse apoio financeiro, através de uma exposição
de motivos que ressaltava a oportunidade.
O processo de avaliação das propostas segue um trâmite de
solicitar um parecer de um revisor externo à instituição (chamado revisor Ad
Hoc). Esse revisor deve dar um parecer
técnico sobre a proposta e esse parecer é avaliado pelo CNPq do ponto de vista
da gestão (por exemplo: se há verba e qual prioridade)
Esse tipo de pedido de auxílio é bastante comum. Entretanto, foi negado pelo CNPq. O mais estranho foi a justificativa para a negativa
dada pelo revisor Ad Hoc. “Se o curso é
tão importante assim, porque o próprio instituto não o financia ?”, disse ele.
Fiquei indignado com a avaliação pois não era de cunho
técnico. Tal abordagem para a decisão seria
competência do CNPq, não de um revisor Ad Hoc.
Assim, liguei para o CNPq para expressar minha insatisfação.
Para minha surpresa, consegui falar com alguém do setor de
avaliação dos pedidos de auxílio. Fui
muito bem atendido pelo funcionário que, acabei descobrindo, sabia exatamente o
que estava acontecendo. Expliquei que não
entendia e não concordava com a avaliação do revisor Ad Hoc (que nunca soube de
quem se tratava). O responsável do CNPq,
fez uma pausa ao telefone e depois disse: “pois é, a avaliação foi feita por
alguém que te conhece !!!”. Em seguida,
ele me instruiu como fazer um pedido de reconsideração. Fiz o pedido que foi aceito imediatamente.
A viagem e o curso foram um sucesso. Posteriormente, isso foi levado em conta para
que eu conseguisse uma bolsa como pesquisador do CNPq. Na avaliação da aprovação desse pedido, o
avaliador disse: “o candidato está em plena ascensão profissional”.
Por muito tempo, me inquietou o fato de que pessoas que me conheciam
(como esse revisor Ad Hoc) tentassem sabotar minha ação profissional (como se não
bastasse o Kruger). A questão era o
porquê. Certamente não seria por disputa
de verba pois eu não tinha acesso a isso.
Seria inveja ? Seria algum tipo de vingança ? Seria pura antipatia ou
despeito ?
Nunca imaginei que todas as pessoas que conheci
profissionalmente fossem meus amigos.
Também não precisariam ser mui amigos, ou seja, inimigos disfarçados
esperando o momento da agir. Fosse quem
fosse, por que motivo fosse, não lograram êxito.
Aquele episódio me marcou de forma a jamais repetir a mesma
atitude do meu mui amigo. Fui
muitas vezes solicitado para dar parecer técnico, como revisor Ad Hoc (FAPESP,
CNPq, CAPES). Sempre procurei dar um
parecer técnico equilibrado e justo, independente do solicitante e/ou da
instituição a qual pertencia.
Pois, com o critério com que julgardes, sereis
julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Jesus
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