CRIME PERFEITO

 Na postagem anterior (A SOLDA) percebe-se que, apesar de haver acontecido um acidente grave que causou o encerramento de um projeto relevante, ninguém foi responsabilizado.  Mas esse não foi o único episódio, que presenciei, com o mesmo resultado. 

O próprio acidente com o VLS em 2003, após extensa investigação não responsabilizou ninguém.  Concluiu-se, que uma série de fatores contribuíram para o acidente.  Entretanto, nenhum deles apontava algum responsável.  Motivos como falta de recurso ou falta de pessoal, embora verdadeiros, não responsabilizam ninguém.

Esse tipo de abordagem é muito antigo.  Foi na época que eu trabalhava no CTEx, que ouvi de um ex-professor meu do IME (um oficial muito lúcido) que se tratava de um crime perfeito.  Segundo ele, crime perfeito é aquele que quando investigado só encontra vítimas.  Ao final na investigação conclui-se que todo mundo é vítima e ninguém é culpado.  Perfeito!

Como se pode aceitar a ideia de que um crime posso acontecer sem um agente / um criminoso ?  Evidentemente que se trata de um embuste para esconder o(s) culpado(s).  Basta arrumar uma desculpa para “tirar o corpo fora” até que ao final não se possa concluir nenhuma responsabilidade no ocorrido. 

Me lembra uma historinha que li, faz muito tempo, em uma cidade do velho oeste americano, onde era proibido jogar.  Em um momento que estava chovendo, o xerife local entra apressado em um bar e se depara com uma mesa de carteado com 4 jogadores.  Um deles estava com o baralho aberto nas mãos.  O xerife declara em alta voz: peguei vocês em fragrante! Um dos jogadores se levanta e diz: que isso xerife, entrei aqui pelo mesmo motivo que o senhor – a chuva.  O segundo se levanta e diz eu estava apenas conversando com o meu amigo aqui.  O terceiro ergue o copo de tinha na mão e diz que estava apenas bebendo.  Então o xerife olha para o último, que tinha o baralho nas mãos, e diz: vai dizer que você não estava jogando ?  Então o homem responde tranquilamente: ora xerife, com quem ?  Se não havia ninguém para jogar com ele então ele não estava jogando com ninguém.  Perfeito!

Me pergunto: como uma sociedade pode aceitar passivamente que todo tipo de irregularidade não possua responsáveis e ninguém seja punido?  Não importa que tipo de argumento fajuto se apresente, a relação causa e efeito existe e deve ser apontada.  Trata-se de um autoengano, que evitar punir responsáveis vá fazê-los se tornarem melhores profissionais e mais cuidadosos. 

A própria legislação apresenta características mensuráveis: imperícia, imprudência e negligência.  Entretanto, na hora de se imputar responsabilidades se faz vista grossa.  Ao final, conclui-se que ninguém é responsabilizado e os crimes perfeitos continuam acontecendo.

Além do prejuízo que essa atitude não corrige, ela também incentiva a novas ocorrências.  Afinal, porque não ?  já que nada acontece como represália.  Também tenho visto que isso leva a um sentimento estranho de injustiça para aqueles que, finalmente, acabam punidos: porque eu ?  e os outros ?  A conclusão (absurda) para isso é que como não se pune todos, não se deve punir ninguém!  Mais uma vez, o crime perfeito.

O maior estímulo para cometer faltas é a esperança de impunidade.” Cícero

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