REGULAMENTAÇÃO

 Após minha aposentadoria, comecei uma empresa de consultoria, a CLC.  Entre projetos de Guiamento, Navegação e Controle de foguetes, também nos tornamos representantes de algumas empresas internacionais.  Uma delas produz mesas rotativas para calibração de sensores.

Alguns anos atrás essa mesma empresa (representada) nos contactou para dizer que outra empresa, situada na cidade de São Paulo, havia solicitado um orçamento para calibração de uma mesa rotativa de sua propriedade.  Acontece que a tal mesa era totalmente mecânica, o que tornava a calibração pretendida muito simples.  Não seria viável, economicamente falando, enviar um profissional do exterior para esse serviço.

Então, essa empresa que representamos, nos perguntou se não poderíamos nós mesmos fazer o serviço.  Respondi que sim e entrei em contato com o potencial cliente para oferecer nosso serviço de calibração.  Obviamente, me identifiquei com representante técnico da empresa produtora do equipamento.

Após rápida troca de mensagens, identificamos o problema e, de fato, era muito simples de atender ao cliente.  O trabalho não levaria mais que um dia de trabalho e, mesmo levando em conta a viagem ida e volta a São Paulo, o custo total não chegaria a 5 mil reais.

Recebi, então, um questionamento do possível cliente se éramos filiados à associação XYZ e se tínhamos a certidão ABCD.  Minha resposta foi obviamente não.  Nem faria sentido procurar tal condição, que só traria despesas, para a execução de um trabalho eventual e de baixo custo.  Tínhamos expertise pois éramos representantes técnicos da empresa que produziu o equipamento deles, mas parece que isso não era suficiente.  Deveríamos atender a algum tipo de regulamentação.

O contato não deu em nada e não sei como resolveram a questão.  Entretanto, me fez ter algumas percepções.  Eles procuraram uma empresa estrangeira que, certamente, não atendia nenhuma daquelas exigências.  Qualquer que fosse a regulamentação, era só válida para empresas brasileiras.  Empresas estrangeiras atendem as leis do país de origem.  Estavam dispostos a pagar muito mais caro (e em euro), sem perguntar nada, um serviço que poderia ser feito no Brasil e na semana seguinte, pois a tal regulamentação não permitia. 

Percebi também que não era a primeira vez que eu me deparava com esse tipo de problema.  Quando produzimos nossos primeiros equipamentos, os potenciais clientes sempre nos perguntavam se atendiam às normas A, B ou C.  Entretanto, compravam os equivalentes no exterior sem perguntar nada pois já sabiam que eram regulamentações só válidas no Brasil.  Nesses casos eram aceitos padrões internacionais e só.  Ou seja, trata-se os produtos e serviços brasileiros com mais rigor do que os de fora, devidos às tais regulamentações. 

Essa postura claramente prejudica o empreendedorismo nacional em detrimento do produto estrangeiro.  Aumenta o custo, burocratiza a produção e dificulta os negócios.  Em outras palavras: só nos sacaneia.  A questão que surge é o porquê disso. 

Não sou nenhum entendido no assunto, mas vou aventar algumas respostas.  Seria desconfiança na seriedade / qualidade do que fazemos?  Seriam apenas oportunidades de criar dificuldades para vender facilidades?  Seria uma forma de controle social através das múltiplas redes e órgãos certificadores?  Seria sanha de cobrar impostos ?

Não é à toa que estamos vendo uma enorme quantidade de empreendedores indo empreender em outro país.

“A burocracia é o maior inimigo do desenvolvimento”.


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