ENERGIA MÍNIMA

 Durante o pré-vestibular (1973) recebemos a visita do professor dono do curso Miguel Couto que era especializado em preparação para medicina (mais tarde houve a fusão Miguel Couto – Bahiense).  Esse professor deu uma breve explicação que me acompanhou para o resto da vida.

Ele pegou uma caixa de fósforos e ficou esfregando o palito lentamente na superfície de risco (a que acende o fósforo).  Depois de um breve momento, ele perguntou: o que está acontecendo aqui ? o que eu vou conseguir com isso ?  vou gastar a cabeça do fósforo e a superfície de risco e o fósforo não vai acender.  Porquê ?  Porque estou abaixo da energia mínima que deflagra a reação que acende o fósforo.  Então, ele fez um movimento brusco com o fósforo na superfície de risco e o fósforo acendeu.  O professor arrematou: entretanto, se dou uma energia suficiente (acima da mínima) a reação se inicia.

Percebi que havia recebido uma verdade transcendental.  Não é só com fósforos ou com reações químicas.  Em qualquer área de nossas vidas, existe uma energia mínima que precisa ser superada para que algo aconteça.

Se você se propõe a estudar um idioma mas não dedica tempo e atenção (energia mínima) não aprenderá.  O mesmo vale para dieta, exercícios físicos ou até mesmo em relacionamentos.  Se você não se dispuser a dar a energia mínima o processo não será deflagrado.  Em vez disso, há desperdício de tempo, energia e até desgaste pessoal.

Vi esse mesmo princípio ocorrer inúmeras vezes, durante minha vida profissional.  Começava-se um projeto e, por mais bem elaborado que fosse ou que a ideia fosse válida, não prosperava.  Porque não se dava a energia mínima para que o projeto pudesse deslanchar.  Essa energia mínima tem vários componentes, o principal deles, mas não o único, era o recurso financeiro.

Em mais de uma ocasião, participei de proposta de projeto.  Dava bastante trabalho prever fases de algo que ainda seria desenvolvido e os custos necessários.  Após todo esse trabalho sério, chegava-se à conclusão que custaria X.  Então, a instância superior respondia: nós vamos conseguir X/10 e você vai tocando. 

Estando abaixo da energia mínima, o projeto não andaria (não era uma simples questão de competência técnica) e todo o recurso financeiro investido seria perdido.  Depois de algum tempo (outro recurso perdido) o projeto seria considerado inviável, ou obsoleto ou qualquer outra desculpa que fosse mais conveniente.  Entretanto a resposta certa, já no início, teria sido: então vamos cancelar o projeto! (ou nem iniciá-lo).  Estranhamente nunca vi um chefe ou gestor tomar tal atitude a não ser eu mesmo (vide Gerenciamento Incoerente).  Se for para fazer, é preciso que seja bem feito.  Caso contrário, é melhor nem tentar.

Ao longo de muitas postagens desse blog, mostrei que não é só a falta de recursos que impede o andamento de um projeto.  A maneira como esses recursos são utilizados e as regras que lhe são impostas, causam um enorme desgaste de energia mental, administrativa e de tempo.  Com o passar do tempo, percebe-se que todo esse desgaste levou o projeto a caminhar abaixo da energia mínima e, por consequência, nunca chega ao fim.

Fico pensando se tudo isso não é proposital.  Estar abaixo da energia mínima de trabalho é conveniente para muita gente.  Com isso, não precisam se preocupar com o cumprimento de prazos ou com a qualidade do que fazem.  O nível de responsabilidade também estaria abaixo do mínimo.  Assim o tempo vai passando, sem maiores preocupações.  Afinal, o salário estará sempre garantido no final do mês.

Deixem que o futuro diga a verdade e avalie cada um de acordo com o seu trabalho e realizações. O presente pertence a eles, mas o futuro pelo qual eu sempre trabalhei pertence a mim.  Nikola Tesla

Comentários

  1. Agora entendo esse modelo de trabalho, zero esforço e consequentemente zero resultado.

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  2. Muito interessante! Já vou compartilhar com meu filho e com outros jovens!

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