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DECISÃO POLÍTICA

  Após todo o estresse descrito da postagem anterior (anti-terapia), finalmente chegou o dia do lançamento.   Eu estava, na sala de operações que monitorava tudo o que acontecia no foguete.   Era lá onde toda a sequência de eventos e a contagem regressiva era monitorada e operada. O evento era revestido de importância.   Na plataforma de visitantes estava o próprio presidente da República além de diversas autoridades. Já durante a contagem regressiva, mas antes de iniciar a contagem automática, acendeu uma luz vermelha piscante na tela de um dos computadores.   Era sinal de problemas.   O responsável dessa operação, o Engenheiro Gines Garcia (morto na tragédia de 2003), verificou que havia indicação de despressurização do segundo estágio.   Sem a pressurização, o motor não entraria em operação após o comando de ignição. Para consertar o problema seria necessário que fosse desmontado aquele estágio.   Ou seja, o lançamento deveria ser adiado....

ANTI-TERAPIA

  Não se faz ideia de quão complexo é a campanha de lançamento de um foguete.   A maioria das pessoas assiste pela televisão a contagem regressiva que parece que começa no 10 e vai decrementando até atingir o zero.   Entretanto essa contagem começou muito antes.   Pelo menos 24 horas antes. A contagem regressiva marca as ações que precisam ser tomadas até o comando de ignição (o zero da contagem).   Uma enorme quantidade de eventos precisa acontecer e cada um é checado para se passar para o próximo.   Todo um procedimento é previamente preparado para saber o que fazer se algo não sai do jeito que devia ser. A contagem regressiva tem 3 fases.   A primeira (logo no início) se algo não está correto, interrompe-se a contagem e, quando corrigido, continua-se ao ponto de onde parou.   Numa segunda etapa, se a contagem tiver que ser interrompida, retorna-se a algum ponto anterior.   Por último (já próximo do lançamento) se a contagem for interro...

FELICIDADE PREOCUPADA

 O  dia em que foram abertas as notas do vestibular do IME (dezembro de 1973), foi de fato inesquecível.   Era a coroação de 10 meses de estudo árduo rumo a um objetivo ainda distante e, de certa forma, indefinido. Competindo com centenas de candidatos também preparados, a emoção de ter passado naquele embate era difícil de descrever. Logo após o término do evento de divulgação do resultado, fui até a calçada em frente da praia Vermelha (um cartão postal do Rio de Janeiro e local de filmagem de muitas novelas e filmes).  Enquanto olhava para esse cenário paradisíaco, com uma sensação de alívio e extrema alegria, percebi que ao meu lado havia um colega de cursinho.  Seu nome era Ivan (hoje já falecido) e ele também havia passado. Me aproximei dele e começamos a conversar (era a primeira vez que eu falava com ele).  Então ele disse algo que me chamou a atenção.  Esse é o momento mais feliz da minha vida, disse ele.  Fez uma breve pausa e continu...

O FANTASMA

  Já no final da minha carreira como pesquisador no IAE, eu havia montado um acervo de livros considerável.   Os principais livros da área de controle, de processamento de sinais de dinâmica de voo de foguetes e satélites faziam parte desse acervo, que ficavam nas estantes na minha sala. Qualquer um podia pegar algum para consulta.   Afinal estavam ali pra isso mesmo.   Bastaria que fosse devolvido.   Foi nessa toada que um dia, procurei um livro e não encontrei.   Então fui perguntar a cada um, sala por sala, quem havia pego o livro e todos negaram que tivesse pego. Era algo, de certa forma, inquietante.   Naquela época, após o projeto SIA, ficávamos em um prédio isolado e com controle de acesso.   Só pessoal autorizado poderia adentrar e, ainda assim, sendo monitorado por câmeras externas e internas.   Somente o pessoal da minha equipe estava no prédio por aqueles dias.   Ninguém externo teve acesso ao prédio muito menos na minha s...

Aventuras Russas VISÃO NOTURNA

  Em novembro de 1992, em minha segunda viagem a Moscou, durante o fim de semana, fomos visitar um parque chamado Izmaylovsky.   Embora estivesse coberto de neve, havia uma grande feira de todo tipo de produto.   Todo tipo mesmo.   Incluindo lâmpadas queimadas, como descrito na postagem Aventuras Russas.   Eu estava particularmente interessado em adquirir um binóculo.   Naquele tempo, a grande diferença cambial fazia com que diversos produtos de fabricação russa estivessem muito baratos.   Binóculos de grande qualidade era um deles. Fomos percorrendo o parque, parando onde houvesse algum tipo de objeto que nos interessasse.   Eu, em especial, para onde houvesse algo que parecesse um binóculo.   Num certo momento, enquanto eu estava parado em frente a uma bancada com diversos tipos de lentes para câmeras fotográficas, surgiu alguém que se aproximou de forma estranha.   Veio por trás de mim e falou, por cima do meu ombro, com bom inglê...

O PERIGOSO

  Quando comecei a dar aulas na Universidade Braz Cubas em 1994, conheci o professor Pio Torre Flores (hoje falecido).   Tomávamos o mesmo ônibus que levava os professores para a universidade que ficava em Mogi das Cruzes.   Foi nessa época em que ele relatou um fato pitoresco ocorrido por ocasião de sua chegada ao Brasil. Pio era de origem peruana e havia estudado na Alemanha.   Não sei se devido à cultura peruana ou alemã ou mesmo à sua personalidade, Pio era um homem muito sisudo.   Sua fala dura beirava à truculência, às vezes.   O mais marcante era seu sotaque “portunhol”.   Mesmo depois de muitos anos morando no Brasil, ainda trazia um forte sotaque castelhano.   Assim, quando ele chegou ao Brasil na década de 80, o sotaque era ainda mais acentuado e aí é que ocorreu o episódio em questão.   Naquela época, o aeroporto principal de entrada do país era no Rio de Janeiro.   Ele chegou com a família já à noite e alugou um carro par...

A ENTREVISTA

  No final da década de 90, fui convidado por uma revista mensal sobre temas variados (de grande circulação) para dar uma entrevista sobre foguetes e tecnologia espacial.   A entrevista seria na forma de respostas a uma série de perguntas que o repórter responsável iria me fazer.   Certamente era uma honra poder participar, mas também uma preocupação.   Já naquela época era corrente que repórteres gostavam de distorcer o que os entrevistados falavam para reforçar suas ideias / conceitos pré-concebidos.   Além disso, o próprio assunto já vinha sendo motivo de críticas na imprensa brasileira (vide postagem Caramuru). Assim, eu tomei a precaução de condicionar a entrevista à revisão do texto das minhas respostas que seria publicado.   Ou seja, tudo que fosse escrito no meu nome deveria ter sido previamente aprovado por mim.   Me pareceu bastante sensato e foi aceito tranquilamente. Então o repórter me enviou as perguntas e eu as respondi, com preci...