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REGULAMENTAÇÃO

 A pós minha aposentadoria, comecei uma empresa de consultoria, a CLC.   Entre projetos de Guiamento, Navegação e Controle de foguetes, também nos tornamos representantes de algumas empresas internacionais.   Uma delas produz mesas rotativas para calibração de sensores. Alguns anos atrás essa mesma empresa (representada) nos contactou para dizer que outra empresa, situada na cidade de São Paulo, havia solicitado um orçamento para calibração de uma mesa rotativa de sua propriedade.   Acontece que a tal mesa era totalmente mecânica, o que tornava a calibração pretendida muito simples.   Não seria viável, economicamente falando, enviar um profissional do exterior para esse serviço. Então, essa empresa que representamos, nos perguntou se não poderíamos nós mesmos fazer o serviço.   Respondi que sim e entrei em contato com o potencial cliente para oferecer nosso serviço de calibração.   Obviamente, me identifiquei com representante técnico da empresa pr...

CRIME PERFEITO

  Na postagem anterior (A SOLDA) percebe-se que, apesar de haver acontecido um acidente grave que causou o encerramento de um projeto relevante, ninguém foi responsabilizado.   Mas esse não foi o único episódio, que presenciei, com o mesmo resultado.   O próprio acidente com o VLS em 2003, após extensa investigação não responsabilizou ninguém.   Concluiu-se, que uma série de fatores contribuíram para o acidente.   Entretanto, nenhum deles apontava algum responsável.   Motivos como falta de recurso ou falta de pessoal, embora verdadeiros, não responsabilizam ninguém. Esse tipo de abordagem é muito antigo.   Foi na época que eu trabalhava no CTEx, que ouvi de um ex-professor meu do IME (um oficial muito lúcido) que se tratava de um crime perfeito .   Segundo ele, crime perfeito é aquele que quando investigado só encontra vítimas.   Ao final na investigação conclui-se que todo mundo é vítima e ninguém é culpado.   Perfeito! Como se po...

A SOLDA

  Em 1982 eu já havia deixado o projeto ROLAND e estava trabalhando no projeto ATTMM (Aquisição de Tecnologia em Tele-direção e Materiais para Mísseis.   Isso não significava que o ROLAND tivesse sido abandonado.   Decidiu-se começar a nacionalização do sistema (que era o objetivo do projeto) pelo veículo lançador do míssil.   A equipe que trabalhava nisso trabalhava no mesmo prédio do projeto ATTMM. Depois de um grande esforço de engenharia e burocracia conseguiram construir um protótipo da torre de lançamento do Roland, que foi montada sobre uma viatura convencional já existente.  Na véspera do ensaio de aceitação do sistema (não lembro se era para um tiro real ou não), o veículo foi transportado para o local de teste em uma carreta de transporte própria para isso. Lembro-me claramente desse dia quando um dos engenheiros que trabalhava no projeto, adentrou na sala, com os olhos esbugalhados, dizendo que havia acontecido um acidente e toda a viatura com a t...

IDADE DA PEDRA

  Em 2006 estive visitando a IAI – Israel Aircraft Industries.   Uma de suas subsidiárias a MBT – System and Space Technology produz o Shavit um veículo lançador de satélites totalmente de combustível sólido.   Nosso VLS também era assim e havia interesse em buscar alguma cooperação para o seu sucessor o VLM (muito semelhante ao Shavit).   Fomos muito bem recebidos e cheguei até a visitar o local onde estava sendo montado o Shavit. Tivemos uma série de reuniões técnicas e, em uma delas, ocorreu um episódio digno de nota.   Estávamos em reunião com um especialista em aerodinâmica.   Não me lembro do seu nome, então vou chamá-lo de Aldebarã.   Aldebarã era bastante expansivo e loquaz – típico de um professor que se orgulha do que sabe.   Estávamos discutindo alguns aspectos de como controlar os fenômenos aerodinâmicos, quando ele citou um fenômeno que eu não conhecia.   Eu disse a ele que nunca havia ouvido falar daquilo quando ele deu uma ...

MUI AMIGO

  Em 2001, surgiu uma oportunidade de ministrar um curso rápido ( short course ) na pós-graduação da Universidade de Glasgow.   Eu havia conhecido um professor de lá, que tinha vindo ao Brasil para ministrar um curso aqui no CTA.   Seria uma boa ocasião para divulgar o projeto do VLS (Veículo Lançador de Satélites) do qual eu era o responsável pelo sistema de controle.   Também de manter contato com profissionais de alto nível da mesma área. O financiamento do curso deveria ser compartilhado.   As passagens áreas seriam pagas pelo British Council.   Enquanto as diárias deveriam ser pagas pelo CNPq.   Em função disso, fiz todo o processo de solicitação desse apoio financeiro, através de uma exposição de motivos que ressaltava a oportunidade. O processo de avaliação das propostas segue um trâmite de solicitar um parecer de um revisor externo à instituição (chamado revisor Ad Hoc).   Esse revisor deve dar um parecer técnico sobre a proposta e ess...

CARAMURU

  Em 02 de novembro de 1997, foi feito o lançamento do primeiro veículo lançador de satélites VLS.   Foi o coroamento de esforços de mais de 1000 técnicos e engenheiros por 8 anos.   Infelizmente, um dos 4 motores do primeiro estágio não acendeu e o veículo teve que ser destruído antes do término desse estágio.   Para todos os que trabalharam duro nesse projeto, foi uma frustração bem grande.   A imprensa internacional noticiou o fato, lamentando o ocorrido e dando detalhes técnicos tanto do veículo como da causa do insucesso. Na mesma semana, fomos surpreendidos por uma reportagem, em um jornal nacional de grande circulação, de um articulista que me recuso a nomear.   O título da reportagem: “foguetinho caramuru deu chabu”.   Era uma referência jocosa a uma propaganda da minha infância de uma fábrica de fogos de artifícios chamada Caramuru (um personagem da história do Brasil).   A propaganda dizia: fogos Caramuru não dão chabu.   Com is...

COINCIDÊNCIAS

  Em 22 de agosto de 2003, tivemos uma tragédia para o programa espacial, com o acidente do VLS que vitimou 21 colegas meus.   O foguete, quase pronto para lançamento, teve um acendimento intempestivo que destruiu não apenas o próprio veículo bem como toda a estrutura ao seu redor. Aquela seria a terceira tentativa de se obter uma satelização com um foguete brasileiro.   Evidentemente, tudo o que estava a bordo foi perdido.   Inclusive a plataforma inercial (fundamental ao guiamento do veículo) que havia sido comprada, de forma sigilosa, da Rússia. Então, aconteceu um episódio estranho.   No próximo fim de semana ao acidente, entre sexta e segunda-feira, 5 pessoas diferentes, que não tinham relacionamento entre si (algumas nem se conheciam) me procuraram e fizeram exatamente a mesma pergunta: “quantas plataformas inerciais ainda têm para usar no VLS ?” Aquela era uma informação sensível e comecei achar muita coincidência, em um tão curto período de tempo, ...