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QUALIDADE MÍNIMA

Na década de 90, chegou um novo diretor ao CTA.   Até aí nada demais pois isso acontecia, normalmente, a cada 2 anos.   Entretanto, esse me marcou por uma característica singular.   Ao chegar, O Brigadeiro Mangelstron (nome fictício) declarou que iria implantar na instituição a Qualidade Total ! Até então, eu nunca havia ouvido falar de tal coisa.   Para mim, fazer algo com qualidade era (e ainda é): fazer bem feito; fazer com cuidado; fazer com esmero; fazer com dedicação.   Assim, o conceito de qualidade total soava para mim como algo como uma perfeição quase divina.   Obviamente, isso me chamou muito a atenção.   Fiquei até ansioso para saber do que se tratava e como seria feito. Não passou muito tempo e começaram a surgir as primeiras diretrizes.   Para minha surpresa (na época) tratava-se de orientações, instruções e procedimentos que só aumentavam a burocracia existente sem uma implicação direta com o aumento da real qualidade (como eu a entendia).   Isso acabou por gerar um

EXCESSO DE COMPETÊNCIA

Esse “causo” é uma contribuição do leitor “um pesquisador brasileiro”.   Incentivo os demais leitores que queiram contar episódios semelhantes que me mandem no privado. Em uma prodigiosa universidade estadual, que chamaremos de UEBA, havia um setor bastante demandado na administração.   Esse setor lidava com todos os processos solicitados por qualquer professor na UEBA inteira.   Para o leitor leigo no setor público, processo significa qualquer solicitação formal, não tendo nada ver com processo jurídico.   Assim, nesse setor, como em toda máquina pública, o que não faltava, era processo. Havia até uma estatística de que o setor precisaria dar vazão a algo como 60 processos por dia, para que se mantivesse sem acúmulo.   Sendo estatística para controle de qualidade uma coisa rara no serviço público, o simples fato de haver uma meta já era considerado uma grande inovação no início dos anos 2000. O setor contava apenas com duas pessoas (ambos nomes fictícios): uma técnica, a Hermenegi

PRAXE

  Durante o período (2002/2003) que tentei produzir uma plataforma inercial através do projeto SISNAV (vide postagem Gerenciamento Incoerente) aconteceu um outro episódio que vale a pena mencionar. O recurso financeiro do projeto deveria ser gasto através da estrutura administrativa do instituto.   Assim, em um certo momento, solicitei a compra de 6 brocas de aço.   O custo aproximado de cada uma seria 1 dólar.   Ou seja, estou falando de uma despesa total de 6 dólares, na rubrica de material de consumo. Um detalhe importante é que não se tratava de material importado.   Pelo contrário, era um item tão comum que poderia ser adquirido em qualquer loja de ferragens perto da sua casa. Aproximadamente uma semana depois do pedido, recebi em minha sala, através dos meios formais de trâmite de informações, uma pasta de cartolina.   Ela trazia uma etiqueta, impressa por computador, com meu nome e os dados do projeto além da descrição do pedido.   Dentro da pasta havia alguns papéis, escrit

QUERO O MEU

Em 1983, meu primeiro filho tinha alguns meses de idade e, devido ao baixíssimo salário, eu precisava ir na xepa da feira aos sábados para conseguir comprar laranja lima para fazer seu suquinho.   Não me envergonho disso.   Na verdade, tenho até um certo orgulho de dizer isso. Foi um tempo muito difícil financeiramente, mas em nenhum momento me fiz de vítima.   Vivi uma vida frugal e trabalhei duro.   Nessa época, consegui uma oportunidade de dar aulas à noite na Universidade Gama Filho, situada num bairro (Piedade) não muito distante da minha casa. Na primeira vez que fui dar aulas, fui de carro, para conhecer o ambiente.   A Gama Filho ficava no topo da subida de uma rua que era utilizada como estacionamento pelos alunos.   Como era de se esperar, havia uma legião de guardadores de carro que esperavam receber algum dinheiro para “olharem” os carros.   Isso não impedia que houvesse frequentes furtos de veículos naquela rua.   Na situação econômica que eu vivia, perder meu carro velh

AGENTE TRIPLO

  A construção do laboratório começou com a demolição de todas as paredes pré-existentes e construção de novas em seus lugares.   A Pikaretta designou uma equipe de construção liderada por um mestre de obras chamado Ducal (nome fictício).   Como fiscal da obra, foi designado pelo instituto um militar chamado Taberna (nome fictício).   Do ponto de vista militar, Taberna não poderia estar exercendo essa função.   Isso aconteceu devido ao fato que   ele tinha formação em engenharia civil (formação independente da carreira) e havia necessidade de engenheiros para acompanhamento das muitas obras que aconteciam na organização.   Pelo menos foi isso que me disseram. Nas primeiras semanas a obra estava indo bem.   Até que, em uma sexta-feira, aconteceu algo inusitado.   Ducal me procurou e me perguntou se eu não teria dinheiro para pagar seus funcionários.   Achei aquilo um despropósito absurdo.   Porque eu deveria pagar a equipe dele?   A empresa Pikaretta era a responsável pela obra e, por

PROVIDÊNCIA DIVINA

 Uma vez instalados no prédio de salas, agora reformado, começamos a trabalhar intensamente nas atividades relativas ao Projeto SIA.   Simultaneamente, eu acompanhava de perto a construção do prédio do que viria a ser um grande laboratório de desenvolvimento de sistemas de navegação inercial. Em um certo dia muito ensolarado, lá pelas 11:00, comecei a não me sentir muito bem.   Uma sensação estranha acompanhada de uma dor na nuca.   Normalmente isso é indicativo de pressão alta.   Como eu já tinha tido um infarte cinco anos antes, me preocupei que pudesse estar tendo algum problema ligado a isso.   Procurei, então, o posto médico que ficava a menos de 100 metros do prédio. Fui caminhando até lá debaixo de um sol escaldante, pensando que isso poderia prejudicar ainda mais algum problema pelo qual eu estivesse passando.   Quando lá cheguei fui logo atendido e medida minha pressão arterial.   Estava 14x9.   Para alguém da minha idade e tendo caminhado até lá, isso não era exatamente p

A PERÍCIA

  Na semana em que fizemos a inauguração, mencionada na postagem anterior, já estávamos ocupando o prédio.   O motivo principal não era simplesmente ter mais espaço de trabalho era estar próximo da obra que realmente interessava – o laboratório.   Esse ficava na continuação do prédio de salas e seria totalmente reconstruído.   Seria uma luta hercúlea para que esse laboratório ficasse minimamente de acordo com o projetado. Assim que ocupamos o prédio de salas, no dia seguinte, já apareceu problema.   Alguém, passando por fora do prédio (que é térreo) notou que estava brotando água junto à parede do mesmo.   Na verdade, a água borbulhava para fora da terra.   Pedi, imediatamente, a um funcionário da Pikaretta que cavasse naquele lugar para saber do que se tratava. Qual não foi a minha surpresa em saber que ali era a entrada de água do prédio e, pasmem, estava conectada à rede de águas do instituto através de uma mangueira de jardim (presa com braçadeiras).   A ligação deveria ser fei