Anexo do Hospício
Um fato me chamou a atenção já nas primeiras semanas como
profissional. O Campo de Provas da
Marambaia tinha um local próprio para almoço – por sinal muito bom. Eu estava na fila do bandejão e estava à
minha frente o Tenente Sena (* nome fictício).
Percebi que o Ten. Sena teve o trabalho de colocar a concha de feijão no
rechaud e coar todo o caldo do feijão e
ficar só com os caroços na concha.
Fiquei pensando que ele devia gostar só dos caroços. Então, ele colocou novamente a concha no recipiente
e, dessa vez, pegou apenas o caldo não permitindo a entrada de nenhum caroço.
Não me contive diante daquela cena bizarra e perguntei:
porque você está fazendo isso ? Porque está pegando somente caroços e depois
somente caldo e misturando tudo novamente.
Ele respondeu: “É porque gosto de
saber exatamente a quantidade de caldo e de caroços que como”.
Imediatamente, me veio à mente: esse homem não é
normal. Isso se confirmou posteriormente
quando eu soube que ele havia dado carona a um funcionário e quando o carona o
avisou que ele estava tomando o rumo errado, ele parou no meio de um grande
cruzamento, tirou as mãos do volante e pôs na cabeça gritando: “pare de falar, assim
não consigo pensar”. Ou seja, o sujeito
era doido mesmo.
Isso seria apenas um episódio pitoresco se não fosse
recorrente. Não consigo enumerar a
quantidade de gente doida que encontrei ao longo da minha carreira
profissional. Alguém que começa a comer
apenas alho e depois de uma semana ninguém podia mais trabalhar perto dele
devido ao cheiro insuportável. Alguém
que, quando foi cobrado por não entregar o equipamento na data prevista, jogou
o equipamento dentro de um lago. Pessoa
que, quando foi proibida de entrar em um prédio, colocou um enorme torno na porta
para que ninguém pudesse entrar ou sair. O motivo da proibição é que achavam que ele era doido, então tiveram certeza.
O caso mais gritante foi o do Alan Delon (* nome
fictício). Os colegas o chamavam de Alan
Deloko. Sem aviso prévio ou motivo
conhecido, ele entrava em surto psicótico e era internado no hospício. Os dirigentes do instituto solicitaram, mais
de uma vez, a aposentadoria do Alan por incapacidade ao trabalho. Entretanto, o setor de Saúde Mental do
governo não aceitava e indicava que ele deveria retornar ao trabalho pois faria
bem pra ele. Na verdade, estavam
considerando um instituto de pesquisa e desenvolvimento como o anexo do
hospício.
Porque o serviço público tem esse comportamento? Não se importa em manter um ambiente de
trabalho sadio? Será que é porque não há
cobrança de resultados? Será que não se
percebe o quanto desmoraliza e desanima trabalhar em um ambiente onde gente sem
noção interfere e atrapalha?
Perto de me aposentar, um colega da alta gerência do DCTA,
indignado com situações semelhantes, mencionou um antigo adágio: se cobrir vira
circo, se murar vira hospício. Eu
repliquei: quem disse que precisar murar ?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEngraçado que eu só escutava essas histórias. Felizmente não tive que cruzar com essas pessoas, mas posso garantir a veracidade da história. Lembro do caso da minha irmã teve que abdicar de seu emprego público em uma prefeitura porque uma "colega" de trabalho dela teve um surto e quase matou minha irmã em pleno local de trabalho. A administração foi conivente com o ocorrido e quem teve que pedir pra sair foi minha irmã pra não ser atacada novamente.
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