MEDALHAS
Em março de 2012, fui designado pela AEB (Agência Espacial Brasileira) para compor uma comitiva que foi à Ucrânia para avaliar o acordo que o governo brasileiro mantinha com aquele país sobre uma empresa chamada ACS (Alcântara Ciclone Space).
A viagem foi longa e cansativa. Fizemos alguns voos internos e muitas horas
de viagem de carro, enfrentando muito frio e neve. Entretanto, um episódio me chamou muito a
atenção. No meio da jornada houve um
feriado nacional de comemoração do fim da segunda guerra mundial.
Nesse dia, estávamos em Kiev onde há um grande parque (um museu
a céu aberto) em memória da “Grande Guerra Patriótica”. Você se sente dentro da realidade da guerra,
tal a quantidade de armamentos reais expostos (aviões, helicópteros, caminhões,
tanques, canhões, foguetes , etc..)
Mas o que realmente me chamou a atenção é que, fora do parque, havia um local destinado a cerimônias e, naquele momento, com certo ajuntamento
de pessoas. Meus olhos se focaram em um
homem que estava de uniforme e caminhava um tanto sem direção. De longe ele parecia algum tipo de oficial de
alta patente, mas ele estava só. Não havia
nenhuma comitiva atrás dele. Quando nos aproximamos percebemos que se tratava
de um veterano. Obviamente, já era idoso,
de baixa estatura e seu uniforme já era bem surrado.
Entretanto, o que realmente se destacava nele eram as medalhas
que portava. Começando no pescoço do
paletó do uniforme, de ambos os lados, desciam até a aba inferior do
mesmo. Como se não bastasse o peito coberto
de medalhas, elas continuavam nas coxas da calça, também de ambos os lados. Deveria haver ali, tranquilamente, mais de 100
medalhas.
Fiquei tão impressionado com aquela cena que perguntei ao
ucraniano que nos acompanhava, se aquele era algum tipo de herói nacional. A resposta foi desconcertante. Não necessariamente, disse o acompanhante, apenas
é que cada medalha é uma batalha que ele lutou.
Fiquei atônito, sem palavras. Eu estava diante de um homem que havia lutado
mais de 100 batalhas e sobrevivido. Mais
impressionante ainda é que ele não era visto como um super herói. Ninguém lembrava das dezenas de vezes que ele
encarou a morte pelo seu país. Nem no
sem número de vezes em que o medo assolou sua alma mas não foi suficiente para
paralisá-lo e ele prosseguiu. Tinha um
objetivo: libertar o seu país.
Fiquei pensando que talvez ele não recebesse um tratamento
de super herói porque deveria haver outros iguais a ele. Talvez as pessoas de sua época viam como algo
normal e que ele apenas fez o que tinha que fazer. Mas para mim ele era alguém em que nos devêssemos
espelhar. Não um super herói, mas um
verdadeiro herói.
Infelizmente, em nossa cultura, temos uma tendência a
distorcer ou subvalorizar os verdadeiros atos de bravura. Parece que nos alivia a consciência pensar
que talvez haja motivos não nobres por trás de tais ações.
Numa era de pessoas emocionalmente fracas, onde tudo é
ofensivo e questionável, é inimaginável que alguém possa se expor por um bem
maior; que alguém arrisque sua vida pela
pátria (não uma mas dezenas de vezes).
Ou mesmo que alguém venha a se prejudicar para simplesmente fazer o que
é certo.
O verdadeiro heroísmo do homem não é medido por
louros, medalhas ou condecorações, e sim pela coragem e perseverança com as
quais ele enfrenta cada dia. Augusto Branco
Ninguém tem maior amor do que este, de dar
alguém a sua vida pelos seus amigos. João 15:13
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